Dez unidades da Petrobras, cinco delas em Copacabana, não terão licença renovada pelo governo do estado

10/12/2011 - O Globo

Zona Sul reage à extinção de postos de gasolina

FÁBIO VASCONCELLOS

O Posto BR
DOMINGOS PEIXOTO / O GLOBO

RIO - A decisão do governador Sérgio Cabral de não renovar a licença de uso do solo de dez postos de gasolina da BR Distribuidora provocou uma união inédita na cidade. Moradores da Zona Sul, principal área afetada, e a empresa se uniram contra a medida. Em ofício enviado à Petrobras, o governador deu prazo de 90 dias para que os postos sejam desativados. Com isso, Copacabana perde os cinco postos da Avenida Atlântica, restando apenas dois em ruas internas do bairro. Outro três postos no canteiro central da Lagoa Rodrigo de Freitas também serão fechados, conforme antecipou na sexta-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO.
O secretário chefe da Casa Civil, Régis Fichtner, explicou que a medida foi tomada porque as áreas ocupadas pelos postos são muito importantes do ponto de vista turístico. Ele acrescentou que os terrenos serão cedidos à prefeitura para que o município decida qual a melhor finalidade. Procurada, a prefeitura informou que ainda analisa qual será a melhor destinação das áreas.
— Esses postos estão localizados em áreas do estado e foram cedidos há 20 anos para a Petrobras. Esse prazo terminou este ano. A Petrobras fez uma proposta que foi levada para o governador, que decidiu não renovar. O governo entende que essas áreas não são adequadas para o uso de postos de gasolina. São áreas nobres do ponto de vista turístico e paisagístico — afirmou Fichtner.
Petrobras diz que bairros perderão metade dos postos
Em nota, a Petrobras diz que não desistiu do negócio e que vai buscar mais informações no governo sobre a decisão. A distribuidora acrescentou que "os postos estão localizados em bairros onde há limitação de espaço para construção de novas estações de serviço". Segundo a empresa, a extinção dos postos provocará impacto no abastecimento da região. "Nesses postos são realizados aproximadamente 1,1 milhão de abastecimentos por mês. Na Zona Sul, o número total de postos de combustíveis, de todas as bandeiras, seria reduzido à metade", diz a empresa. Além dos postos da Avenida Atlântica e Lagoa, a Petrobras terá que fechar os postos da Avenida Radial Oeste (próximo à Uerj, e a unidade no Aterro, na altura do MAM.
O presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães, criticou a decisão do governo. Para ele, a extinção dos postos vai reduzir a oferta do serviço para os moradores, além de dificultar o trabalho dos outros dois postos que continuarão em funcionamento:
— Antes de ser um bairro turístico, Copacabana é também um bairro residencial. Os postos já estão integrados à paisagem do bairro. Até mesmo o lazer será afetado, pois os moradores calibram os pneus das bicicletas nesses postos, que ficam próximos à ciclovia.
A presidente da Associação dos Moradores da Fonte da Saudade e Adjacências, Ana Simas, acredita que a decisão pode aumentar o monopólio de algumas bandeiras que operam o serviço na Lagoa:
— Conversei com vários moradores. Todos são contra a medida. Com menos postos, poderá haver filas enormes de veículos para abastecer nos postos que permanecerão, como acontece hoje, por exemplo, no Jardim Botânico.

Para Evelyn Rosenzweig, da Associação de Moradores e Amigos do Leblon, a medida do governador foi radical. Segundo ela, a redução no número de postos pode melhorar a paisagem, mas a medida também prejudica a população.

— Hoje, no Leblon, temos apenas um posto, e mesmo assim com risco de ser vendido para o mercado imobiliário. Muitas pessoas, como eu, já utilizavam os postos da Lagoa, justamente por falta de opção. Acho que a medida para melhorar a visibilidade nas áreas turísticas é boa, mas não poderia ser tão radical. Poderia ser buscado um meio termo.
O futuro das áreas hoje ocupadas pelos postos preocupa a Associação dos Moradores de Botafogo. A presidente da entidade, Regina Chiaradia, disse que é preciso ficar claro qual será a destinação dos terrenos:

— Constantemente recebemos reclamações de moradores sobre a redução do número de postos de gasolina. Nunca sabemos ao certo quais são os interesses que estão por trás de uma medida como essa. Espero que não seja para repassar os terrenos para o setor imobiliário. Se for isso, será um escândalo.