A cidade que vive ao ritmo do bate-estaca

16/09//2012 - O Globo, Rafael Galdo

Instalação do Comperj em Itaboraí provoca 'boom' imobiliário e também atrai outros investimentos

A pracinha no Centro de Itaboraí, na Região Metropolitana, ainda guarda um ar de interior: casais de namorados, a igreja, casario em estilo colonial e a prefeitura abrigada no velho Palacete do Visconde de Itaboraí. Mas, nessa paisagem, modernos edifícios em construção, a maioria com mais de dez andares, revelam uma cidade em plena transição. Com o início da instalação do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj) em seu território, o município até então considerado dormitório já assiste a uma explosão demográfica e econômica, muito evidente no boom imobiliário. São pelo menos 30 empreendimentos, entre residenciais e comerciais, em construção na cidade, de acordo com a Secretaria municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Expansão que, se traz progresso, também impõe desafios urbanos àquela que está sendo chamada de "nova cidade do petróleo".
Apenas nas ruas em volta da pracinha do Centro, estão sendo erguidos cinco prédios. Ao longo da Avenida Vinte e Dois de Maio, a principal de Itaboraí, são outros tantos. Alguns de grande porte. O Enterprise City Center, por exemplo, num terreno de 15 mil metros quadrados, que tradicionalmente recebia parques de diversões e circos, terá uma torre de escritórios, outra com espaços corporativos, uma terceira com flats, edifícios residenciais e um shopping. O conceito será parecido com o do GlobalCenter Itaboraí, na mesma avenida, com quatro torres para salas comerciais, lojas e flats. Já na BR-101, em Manilha, o shopping Itaboraí Plaza terá mais de 170 lojas, dois prédios de escritórios, um hotel, um hipermercado e seis salas de cinema. Hoje, o cinema mais próximo de Itaboraí fica em São Gonçalo.
- Investidores de todo o país, alguns até de fora, estão interessados no município. E não só o Comperj, mas também o Arco Metropolitano (que ligará Maricá a Itaguaí) e o Porto da DTA Engenharia em Maricá têm influência nesse quadro. Chegamos a Itaboraí em outubro de 2010. Desde então, já vendemos 2.800 unidades, em 18 lançamentos, com previsão de outros quatro em breve - afirma Bruno Serpa Pinto, diretor do grupo Brasil Brokers Niterói.
O perfil dos clientes que têm buscado a cidade é bastante variado, afirma Rafael Cardoso, diretor regional da construtora Rossi, responsável por quatro empreendimentos no município. Segundo ele, investidores optam geralmente por imóveis de dois quartos e salas comerciais. Já quem pretende morar na região costuma procurar unidades de três e quatro quartos, com ampla área de lazer.
- Os dados divulgados estimam algo em torno de 200 mil empregos diretos e mais de cem mil indiretos na região. Certamente haverá déficit de moradia. E isso tem se refletido no mercado - diz Rafael.
Previsão é de um milhão de moradores
Além do setor imobiliário, a cidade tem atraído investimentos em outras áreas. Elizeu Drumond instalou ali sua empresa de guindastes e infraestrutura. E descobriu outra demanda.
- Percebi a falta de hotéis. Então resolvi construir um hotel-fazenda. A valorização é sensacional. Um sítio que foi comprado por R$ 350 mil hoje vale R$ 1,5 milhão - afirmou Drumond.
Com a economia mais forte (segundo o IBGE, o PIB do município passou de R$ 1,71 bilhão para R$ 2,01 bilhão de 2008 para 2009), as previsões são de forte crescimento populacional nos próximos anos. Entre 2000 e 2010, de acordo com dados dos censos do IBGE, esse aumento populacional já foi de 12% (passando de cerca de 187 mil habitantes para 210 mil). No entanto, não para de chegar gente. E as projeções no município são de que a população chegue a um milhão de habitantes em dez anos.
O assistente de medição Giuliano Vidal, de 38 anos, está há apenas nove meses na cidade. Ele deixou a família em Cabrobó, Pernambuco, para trabalhar nas obras do Comperj. Hoje, mora com cinco colegas de trabalho, num condomínio de casas recém-construído. E já pensa em trazer a família:
- Hoje, a cada 21 dias, passo três em casa para matar as saudades. Mas aqui ainda há obras para 30 anos. E penso em trazer todos para cá.
Expansão já apresenta impactos negativos
Tanto crescimento já tem causado impactos em Itaboraí. Quem vive na cidade há mais tempo reclama, entre outros problemas, do saneamento em alguns bairros, da superlotação de serviços públicos, de engarrafamentos e falhas no sistema de transporte. O trânsito em avenidas como a Vinte e Dois de Maio vive complicado e, em meio à dificuldade que os motoristas enfrentam para achar lugar para estacionar, às vezes ocorrem situações inusitadas. Há duas semanas, por exemplo, um cavalo ocupava uma das vagas em pleno centro comercial.
- Hoje, Itaboraí reúne problemas de uma cidade grande, como violência, trânsito e até dificuldades para estacionar, e também o lado ruim de uma cidade pequena, como a falta de opções de lazer. Minha família veio de Copacabana para Itaboraí em meados da década dos anos 90, fugindo da onda de violência. Encontramos tranquilidade aqui. Mas o perfil da cidade está mudando. Hoje, já penso em sair. O que me mantém é o mercado de trabalho, que, para mim, está melhorando muito - afirma a fisioterapeuta e professora de pilates Julianna Moura, de 28 anos.
Secretário municipal de Governo e também presidente da associação comercial do município, José Roberto Salles reconhece que investimentos em áreas como trânsito e transporte são urgentes. Segundo ele, municípios da área de influência do Comperj já desenvolveram um plano que inclui, entre outras propostas, a implantação da Linha 3 do metrô (Niterói-Itaboraí) e a construção de um aeroporto no município.
O Comperj começou a ser construído em março de 2008, numa área de 45 milhões de metros quadrados. A Petrobras informou este ano que a primeira unidade de refino, que vai produzir óleo diesel e querosene de aviação, entrará em funcionamento em abril de 2015. Até 2018, todo o complexo, com mais refinarias, estará em operação.