Próxima Parada do bondinho do Pão de Açúcar pode ser na estação Morro da Babilônia

19/10/2012 - O Globo

Prefeitura vai propor à União e ao operador do teleférico a retomada de projeto original de terceira linha; instalações serão reformadas

Visitantes apreciam vista no alto do Pão de Açúcar Custódio Coimbra / O Globo

RIO A história dá voltas e, numa delas, o bondinho e os cariocas podem ganhar um presente de aniversário inesperado. Prevista no projeto original, a terceira linha de um dos teleféricos mais famosos do mundo, que não saiu do papel, pode ser construída. A variante ligaria o Morro da Urca ao Morro da Babilônia. O prefeito Eduardo Paes quer levar a proposta à União a área é federal e à Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar. No século passado, a expansão encontrou oposição no Exército, que via na ocupação do Babilônia um risco para as fortalezas na entrada da Baía de Guanabara. Os tempos mudaram. Hoje, o morro entre os bairros da Urca e de Copacabana é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e parte da encosta está ocupada por comunidades carentes.

Sou a favor da expansão e acho possível acontecer. Uma APA não pressupõe que não se possa fazer uso da área. Essa ideia qualificaria o equipamento disse Paes, ao falar sobre a possibilidade de concretizar o projeto original do engenheiro Augusto Ramos.

O engenheiro pretendia que a variante do bondinho para a Babilônia partisse do Morro da Urca. Foram anos seguidos de negociações com o governo, como mostra reportagem do jornal A Noite, em 9 de outubro de 1916, intitulada Ministro da Guerra aborrece-se com a insistência de uma consulta.

Passado um século, novos obstáculos se impõem. Os morros da Urca e do Pão de Açúcar estão no centro de uma briga jurídica entre a prefeitura e a concessionária do serviço, que se arrasta desde 1999. A empresa ocupa a área mediante uma cessão de uso da União. A prefeitura, por sua vez, já tentou licitar o serviço e foi atropelada por ações judiciais, que ainda estão em curso.

Segurança em trilha é frágil

Além disso, a área do Babilônia é uma APA, criada por decreto municipal em 1996. A legislação veta cortes, aterros ou qualquer alteração do perfil natural do terreno. Os morros da Urca e do Pão de Açúcar, por sua vez, compõem, desde 2006, um monumento natural, criado também por decreto municipal. O conjunto de montanhas é tombado ainda pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde 1973. Mas, apesar das restrições, foi justamente o entrosamento entre a beleza natural do lugar e a ocupação humana, que está na essência do conjunto do Pão de Açúcar, que ajudou a dar ao Rio o título da Unesco de Patrimônio Mundial como paisagem cultural.

Mas o Pão de Açúcar ainda tem dever de casa para fazer. A unidade de conservação, embora tenha sido criada há seis anos, ainda não tem um plano de manejo que estabeleça as regras de o uso e proteção da área, como determina o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A Secretaria municipal de Meio Ambiente promete o plano para o fim do ano e diz que ele trará novidades, como a imposição de limites à visitação através da Pista Cláudio Coutinho. A prefeitura admite que a trilha do Morro da Urca se encontra degradada. A administração do parque não tem uma sede e a área é vigiada apenas de dia, por dois guardas municipais.

Estamos discutindo com o Iphan um local para instalar a sede administrativa. Queremos também criar uma guarita de acesso, instalar câmeras de segurança e colocar vigilância noturna explica a coordenadora de proteção ambiental da secretaria, Isabela Lobato.

O Caminho Aéreo Pão de Açúcar prepara um banho de loja para o aniversariante. Marcas registradas das estações do bondinho, as coberturas azuis, feitas em fibra de vidro, que protegem o embarque e desembarque há 40 anos, vão se aposentar. Em 2013, elas deverão ser trocadas por abrigos em vidro temperado, dentro de uma série de melhorias que o operador do bondinho pretende empreender, orçadas em R$ 3 milhões.

Catracas eletrônicas em 2013

A mudança ainda depende de autorização do Iphan. Mas a intenção, segundo a diretora-geral da companhia, Maria Ercília Leite de Castro, é que a obra seja feita em um ano. As intervenções incluem ainda a recuperarão da estrutura em concreto das estações e a troca das catracas por modelos eletrônicos que poderão validar o bilhete com o uso de celulares. O Morro da Urca ganhará um plano inclinado para facilitar a circulação de cadeirantes.

As obras serão feitas à noite. O bondinho não pode parar. As novas coberturas de vidro permitirão a contemplação do céu disse Maria Ercília.



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