01/10/2012 - Valor Econômico, Diogo Martins e Guilherme Serodio
Referência cultural do Rio de Janeiro em séculos passados, refúgio de intelectuais e da alta sociedade; local em que foi instalado o primeiro monumento do país - a estátua equestre de Dom Pedro I - e onde o Imperador do Brasil jurou fidelidade à Constituição portuguesa. Passados mais de 250 anos e depois de ter recebido três nomes até se chamar Praça Tiradentes, a região, localizada no Centro do Rio, tenta se reerguer, mudando o rumo de sua história recente, de declínio e abandono, com a proposta de se tornar um polo tecnológico e artístico.
Esse é o perfil que o governo municipal tenta emplacar na região. A ideia é combinar a modernidade, com a instalação de empresas ligadas à cadeia da economia criativa, com a história da região, preservando o estilo arquitetônico do entorno da praça, ocupado por sobrados com fachadas que variam do barroco ao neoclássico, misturadas ao art déco.
A americana fabricante de equipamentos de rede de computadores Cisco, o site de compras coletivas Peixe Urbano, e o Studio-X, da rede de laboratórios da escola de arquitetura da Universidade de Columbia, de Nova York, instalaram-se no entorno da Praça Tiradentes nos últimos anos. Recentemente, a rede By Dussol anunciou investimentos de US$ 5 milhões na compra de um imóvel, que será reformado e adaptado para se tornar o primeiro hotel cinco estrelas do Centro da cidade. A previsão é de o empreendimento ser inaugurado no primeiro semestre de 2014, antes do início da Copa do Mundo.
Marcelo Haddad, diretor executivo da Rio Negócios, diz que o papel da agência de promoção de investimentos da cidade é responder às empresas três perguntas: onde devem se instalar na cidade; se há ou não incentivos do governo; e como serem encontrados por clientes e fornecedores. Em palestras, reuniões e apresentações a potenciais investidores, Haddad cita as empresas instaladas na região para atrair outras companhias para o entorno da praça. O intuito é transmitir uma mensagem de renovação da Tiradentes, ao mesmo tempo em que a história do local é preservada.
No fim de 2011, o Peixe Urbano fechou os cinco escritórios nos bairros de Laranjeiras e Botafogo, ambos na zona sul, para abrir uma sede que concentrasse todas as operações do Rio na Avenida Presidente Vargas, em ponto próximo à Praça Tiradentes. Hoje, o escritório central, localizado "em um dos poucos empreendimentos verdes da cidade", ressalta a companhia, emprega cerca de 400 funcionários das áreas de áreas como marketing, tecnologia, design e recursos humanos.
A Cisco planeja para entre o fim deste ano e o início de 2013 a inauguração de um centro de inovação no entorno da Tiradentes. Irá desenvolver soluções tecnológicas para o mercado brasileiro. A unidade faz parte do plano de investimentos da empresa de R$ 1 bilhão para os próximos quatro anos no país.
A rede By Dussol vai lançar no primeiro semestre de 2014 o hotel Le Paris, com 21 quartos e diárias que variarão de R$ 700 a R$ 3 mil. Terá um restaurante e um grande terraço, onde haverá um bar estilo lounge e uma piscina.
"Os primeiros clientes deverão ser executivos que vêm ao Centro do Rio para fazer negócios. Como não têm onde se hospedar atualmente, eles acabam se deslocando para a zona sul, onde estão os melhores hotéis da cidade", diz o francês Jacques Dussol, um dos donos da By Dussol. "O Centro do Rio não dá opção de hotéis de alto padrão. Como estamos próximos de teatros, do Sambódromo, do Maracanã, captaremos turistas e artistas também", completa.
Somente no entorno da Praça Tiradentes, estão estabelecidos dois dos maiores teatros da cidade, o João Caetano e o Carlos Gomes. As opções noturnas contam ainda com a Estudantina Musical, ponto boêmio da cidade e de encontro dos praticantes da dança de salão, o Centro Cultural Carioca e a boate Espaço Acústica, point do último verão carioca. Há também o restaurante Adega do Pimenta, que é especializado na culinária alemã e em cervejas artesanais e importadas, além dos hotéis Ibis e Formule I, que são da rede Accor.
Em março do ano passado, a universidade Columbia instalou no sobrado 48 da Tiradentes a filial brasileira do laboratório de arquitetura e urbanismo Studio-X. Criados para pensar o futuro das cidades, os laboratórios estão também em Pequim (China), Mumbai (Índia), Nova York, Amã (Jordânia) e Moscou. Para o arquiteto Raul Smith, coordenador do Studio-X, a revitalização da Tiradentes deve ser aproveitada para ajudar a transformar a praça em um polo de economia criativa. "O potencial desta área é incrível", diz Smith.
Em 2009, com recursos do governo federal e também próprios, a prefeitura iniciou um plano de revitalização da Praça Tiradentes, no qual foram gastos cerca de R$ 3,5 milhões em iluminação, em repavimentação e na retirada das grades da praça. Pontos finais de ônibus foram removidos da praça para ruas próximas à Tiradentes e houve reforço no policiamento.
Apesar dos investimentos, a região ainda apresenta problemas, avalia o subsecretário de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design do Rio, Washington Fajardo. "Atualmente, ainda há imóveis públicos vazios. Esses imóveis precisam ser ocupados para alcançarmos nossa meta de revitalização. Esperamos que isso ocorra até 2015", diz ele. "Queremos que a Praça Tiradentes torne-se um distrito criativo, voltado à economia criativa, atividade que é muito sensível aos aspectos econômico-culturais. As empresas que pensamos para a região são de nichos econômicos que apreciam e entendem que o valor histórico e cultural melhoram suas operações", afirma Fajardo.
Ao contrário do que o nome pode sugerir, a Praça Tiradentes não foi o local do enforcamento do líder da Inconfidência Mineira. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado em 21 de abril de 1792 em uma praça pública, atual Avenida Passos, que desemboca na Praça Tiradentes. O arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, um dos maiores estudiosos do espaço urbano do Rio, conta que, com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, os espaços públicos foram alvo dos republicanos. "Eles trocaram nomes de logradouros, ruas, praças, de tudo que fizesse referência ao período imperial. Foi um crime contra a história da praça, que não foi reparado com o tempo", afirma Cavalcanti.
Não fosse o nome, a Praça Tiradentes sequer teria referência ao mártir mineiro. Naquele espaço, há apenas estátuas que fazem referência aos valores republicanos, como a União, a Justiça, a fidelidade e a liberdade. No centro da praça, destaca-se a estátua equestre de Dom Pedro I, neto da então rainha de Portugal, Dona Maria I, justamente quem mandou enforcar e esquartejar Tiradentes.
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Referência cultural do Rio de Janeiro em séculos passados, refúgio de intelectuais e da alta sociedade; local em que foi instalado o primeiro monumento do país - a estátua equestre de Dom Pedro I - e onde o Imperador do Brasil jurou fidelidade à Constituição portuguesa. Passados mais de 250 anos e depois de ter recebido três nomes até se chamar Praça Tiradentes, a região, localizada no Centro do Rio, tenta se reerguer, mudando o rumo de sua história recente, de declínio e abandono, com a proposta de se tornar um polo tecnológico e artístico.
Esse é o perfil que o governo municipal tenta emplacar na região. A ideia é combinar a modernidade, com a instalação de empresas ligadas à cadeia da economia criativa, com a história da região, preservando o estilo arquitetônico do entorno da praça, ocupado por sobrados com fachadas que variam do barroco ao neoclássico, misturadas ao art déco.
A americana fabricante de equipamentos de rede de computadores Cisco, o site de compras coletivas Peixe Urbano, e o Studio-X, da rede de laboratórios da escola de arquitetura da Universidade de Columbia, de Nova York, instalaram-se no entorno da Praça Tiradentes nos últimos anos. Recentemente, a rede By Dussol anunciou investimentos de US$ 5 milhões na compra de um imóvel, que será reformado e adaptado para se tornar o primeiro hotel cinco estrelas do Centro da cidade. A previsão é de o empreendimento ser inaugurado no primeiro semestre de 2014, antes do início da Copa do Mundo.
Marcelo Haddad, diretor executivo da Rio Negócios, diz que o papel da agência de promoção de investimentos da cidade é responder às empresas três perguntas: onde devem se instalar na cidade; se há ou não incentivos do governo; e como serem encontrados por clientes e fornecedores. Em palestras, reuniões e apresentações a potenciais investidores, Haddad cita as empresas instaladas na região para atrair outras companhias para o entorno da praça. O intuito é transmitir uma mensagem de renovação da Tiradentes, ao mesmo tempo em que a história do local é preservada.
No fim de 2011, o Peixe Urbano fechou os cinco escritórios nos bairros de Laranjeiras e Botafogo, ambos na zona sul, para abrir uma sede que concentrasse todas as operações do Rio na Avenida Presidente Vargas, em ponto próximo à Praça Tiradentes. Hoje, o escritório central, localizado "em um dos poucos empreendimentos verdes da cidade", ressalta a companhia, emprega cerca de 400 funcionários das áreas de áreas como marketing, tecnologia, design e recursos humanos.
A Cisco planeja para entre o fim deste ano e o início de 2013 a inauguração de um centro de inovação no entorno da Tiradentes. Irá desenvolver soluções tecnológicas para o mercado brasileiro. A unidade faz parte do plano de investimentos da empresa de R$ 1 bilhão para os próximos quatro anos no país.
A rede By Dussol vai lançar no primeiro semestre de 2014 o hotel Le Paris, com 21 quartos e diárias que variarão de R$ 700 a R$ 3 mil. Terá um restaurante e um grande terraço, onde haverá um bar estilo lounge e uma piscina.
"Os primeiros clientes deverão ser executivos que vêm ao Centro do Rio para fazer negócios. Como não têm onde se hospedar atualmente, eles acabam se deslocando para a zona sul, onde estão os melhores hotéis da cidade", diz o francês Jacques Dussol, um dos donos da By Dussol. "O Centro do Rio não dá opção de hotéis de alto padrão. Como estamos próximos de teatros, do Sambódromo, do Maracanã, captaremos turistas e artistas também", completa.
Somente no entorno da Praça Tiradentes, estão estabelecidos dois dos maiores teatros da cidade, o João Caetano e o Carlos Gomes. As opções noturnas contam ainda com a Estudantina Musical, ponto boêmio da cidade e de encontro dos praticantes da dança de salão, o Centro Cultural Carioca e a boate Espaço Acústica, point do último verão carioca. Há também o restaurante Adega do Pimenta, que é especializado na culinária alemã e em cervejas artesanais e importadas, além dos hotéis Ibis e Formule I, que são da rede Accor.
Em março do ano passado, a universidade Columbia instalou no sobrado 48 da Tiradentes a filial brasileira do laboratório de arquitetura e urbanismo Studio-X. Criados para pensar o futuro das cidades, os laboratórios estão também em Pequim (China), Mumbai (Índia), Nova York, Amã (Jordânia) e Moscou. Para o arquiteto Raul Smith, coordenador do Studio-X, a revitalização da Tiradentes deve ser aproveitada para ajudar a transformar a praça em um polo de economia criativa. "O potencial desta área é incrível", diz Smith.
Em 2009, com recursos do governo federal e também próprios, a prefeitura iniciou um plano de revitalização da Praça Tiradentes, no qual foram gastos cerca de R$ 3,5 milhões em iluminação, em repavimentação e na retirada das grades da praça. Pontos finais de ônibus foram removidos da praça para ruas próximas à Tiradentes e houve reforço no policiamento.
Apesar dos investimentos, a região ainda apresenta problemas, avalia o subsecretário de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design do Rio, Washington Fajardo. "Atualmente, ainda há imóveis públicos vazios. Esses imóveis precisam ser ocupados para alcançarmos nossa meta de revitalização. Esperamos que isso ocorra até 2015", diz ele. "Queremos que a Praça Tiradentes torne-se um distrito criativo, voltado à economia criativa, atividade que é muito sensível aos aspectos econômico-culturais. As empresas que pensamos para a região são de nichos econômicos que apreciam e entendem que o valor histórico e cultural melhoram suas operações", afirma Fajardo.
Ao contrário do que o nome pode sugerir, a Praça Tiradentes não foi o local do enforcamento do líder da Inconfidência Mineira. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado em 21 de abril de 1792 em uma praça pública, atual Avenida Passos, que desemboca na Praça Tiradentes. O arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, um dos maiores estudiosos do espaço urbano do Rio, conta que, com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, os espaços públicos foram alvo dos republicanos. "Eles trocaram nomes de logradouros, ruas, praças, de tudo que fizesse referência ao período imperial. Foi um crime contra a história da praça, que não foi reparado com o tempo", afirma Cavalcanti.
Não fosse o nome, a Praça Tiradentes sequer teria referência ao mártir mineiro. Naquele espaço, há apenas estátuas que fazem referência aos valores republicanos, como a União, a Justiça, a fidelidade e a liberdade. No centro da praça, destaca-se a estátua equestre de Dom Pedro I, neto da então rainha de Portugal, Dona Maria I, justamente quem mandou enforcar e esquartejar Tiradentes.
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