Prefeitura implanta plano de mobilidade no Vidigal

02/09/2013 - O Globo

Leis de trânsito sobem os morros pacificados do Rio Na Rocinha, fiscalização é intensificada.

Na Avenida Presidente João Goulat, no Vidigal, carros estacionados em local proibido: a partir desta segunda-feira, a prefeitura começa a regulamentar o trânsito na comunidade Simone Marinho
RIO - O direito de ir e vir foi conquistado pelos moradores do Vidigal em novembro de 2011, com a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e a interrupção da violência armada do tráfico. Mas trafegar pela sinuosa e estreita Avenida Presidente João Goulart, que corta a favela de cima a baixo, continuou sendo um exercício de paciência. Sem cerimônia, motoristas estacionavam em qualquer trecho da pista, que vivia bloqueada. A partir desta segunda-feira, as regras de trânsito sobem o morro, que, como o asfalto, ganhou placas que proíbem o estacionamento em vários pontos e criam áreas para carga e descarga, e motos. É o novo plano de mobilidade, que está sendo implementado pela Secretaria municipal de Transportes no Vidigal e será levado para outras comunidades pacificadas.

Na Rocinha, o sistema foi implantado recentemente, mas ainda não pegou. Diante disso, a Secretaria de Transportes marcou para esta terça uma superoperação, a fim de coibir infrações. Uma reunião poderá também definir eventuais ajustes. Outras favelas com UPP e problemas de circulação serão as próximas a receber o projeto: Chácara do Céu, vizinha ao Vidigal; Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme.

Estamos ordenando as vias de comunidades pacificadas. O projeto sempre é discutido com os moradores, e a participação deles no cumprimento das regras é fundamental afirma o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio.

Serviços demoram a chegar

Como O GLOBO mostrou no domingo, a pacificação chegou a 33 áreas, que ainda aguardam pela melhoria dos serviços. Encravado entre São Conrado e Leblon, dois dos mais valorizados bairros da Zona Sul carioca, o Vidigal tem cerca de 12 mil moradores, segundo o Censo de 2010. André Maurício Gosi, de 51 anos, diretor social e cultural da associação de moradores da favela, confirma que o trânsito caótico é um dos grandes problemas do morro. Outro é a falta de transporte público de qualidade.

A sexta-feira passada foi de trabalho na principal via do Vidigal. Foram instaladas 50 placas para indicar trechos onde o estacionamento passou a ser proibido, a partir de hoje. Na entrada e no alto da favela, não é permitido estacionar em nenhum dos lados da Avenida Presidente João Goulart. As operações de carga e descarga ficarão restritas a três pontos da via. As motos terão três locais para estacionar. Já as vans licenciadas, que circulam entre o Vidigal e o Jardim de Alah, ganharam um ponto final na subida do morro, com duas vagas, mas apenas entre 6h30m e 10h30m.

O arquiteto Hélio Pellegrino, que investiu mais de R$ 1,5 milhão num empreendimento no Vidigal juntamente com outros dois sócios, os empresários Conrado Denton e Antônio Rodrigues, dono do Belmonte também reclama do trânsito. O hotel Mirante do Arvrão, no alto do morro, que o arquiteto constrói, está quase pronto. Terá cinco suítes, cinco quartos de camas múltiplas e um bar. É o maior investimento privado em favelas e deve ser inaugurado em outubro.

No Vidigal, não há regra no trânsito. As pessoas param em qualquer lugar, estacionam em local proibido, e fica tudo bem. Você pode levar horas para subir ou descer. Tudo fica engarrafado reclama Pellegrino.

Da ação marcada para amanhã na Rocinha participarão 25 controladores de trânsito e três supervisores: 70% desse pessoal moram na própria favela. Na Estrada da Gávea, foram instaladas 70 placas de proibição de estacionamento. Carga e descarga podem ser feitas em cinco pontos. Os ônibus estão autorizados a parar em 20 pontos, e os veículos escolares, só em dez. As vans regulares ganharam 20 pontos, e as motos, três locais para estacionar ao longo da estrada.

O estacionamento é um problema grave na Rocinha. A frota dos moradores cresceu muito. Vamos discutir ajustes do plano e aumentar a vigilância diz Osorio.

Para a Chácara do Céu, o prefeito Eduardo Paes autorizou a construção de uma passarela cruzando a Avenida Niemeyer, em frente à favela. E as Kombis (apelidadas de cabritinhos) que sobem pelo Parque Penhasco Dois Irmãos até a entrada da comunidade terão um ponto para embarque de passageiros na Rua Gabriel Mufarrej, próximo à Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon.

A Ladeira Ary Barroso e os acessos às favelas Chapéu Mangueira e Babilônia entrarão no mesmo esquema, com a proibição de estacionamento em diversos trechos e a regulamentação de locais para carga e descarga. No entanto, o projeto ainda será discutido com as comunidades. O trânsito em favelas pacificadas do Rio tem sido uma grande dor de cabeça para os moradores. Além do aumento interno da frota, as comunidades passaram a receber um número maior de visitantes.

No Morro da Babilônia, com cerca de quatro mil habitantes, os veículos se multiplicaram nos últimos de anos. Passaram de quatro, há dez anos, para mais de 50, segundo o microempresário Carlos Antônio Pereira, o Cadu, de 50 anos, presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia. O morro foi ocupado pelas forças de segurança em maio de 2009. Em junho do mesmo ano, a UPP foi inaugurada. Desde então, uma quantidade incalculável de jipes, vans e micro-ônibus tem subido a favela levando turistas.

A Babilônia só tem uma entrada, o que complica muito. Com a pacificação e a urbanização (lá a Secretaria de Habitação realiza obras do programa Morar Carioca), muitos moradores compraram carros. Aumentou também o número de turistas. O estacionamento virou um problema. Não há vaga para todo mundo, e os motoristas param os carros sobre as calçadas diz Cadu.

A associação da Babilônia tem procurado conversar com as autoridades do trânsito. Cobra mais campanhas, sinalização e fiscalização eficiente.

Tem horas que ninguém consegue subir a favela. Aparecem caminhão de entrega, ônibus de transporte escolar e micro-ônibus com turistas. A prefeitura garantiu que vai organizar o trânsito e botar placas, horário e locais para carga e descarga diz o presidente da associação de moradores da Babilônia.