01/04/2015 - O Globo
Leia: Desordem à margem do Arco - O Globo
O Arco Metropolitano é, na extensão da sua malha e no papel a desempenhar na economia do Rio de Janeiro, um projeto grandioso. Quando ficar pronto, terá 145 quilômetros de via expressa ligando Itaboraí a Itaguaí, um corredor viário fundamental para facilitar a logística de carga na região, inclusive no Porto do Rio. Aumentará a competitividade econômica do estado, reduzirá tarifas de frete e, estima-se, contribuirá para a injeção de quase R$ 2 bilhões no PIB fluminense, a par de reforçar o caixa do governo estadual com R$ 340 milhões de ingressos anuais, resultantes de receitas de impostos.
Não por acaso, a obra é tida como prioritária pelo poder público. No entanto, apenas oito meses após a inauguração do seu primeiro trecho, de 71,2 quilômetros entre Itaguaí e Duque de Caxias, parece evidente que na execução do projeto repetem-se equívocos de outros empreendimentos, decorrentes de planejamento falho — um mal generalizado no país, mas, em particular, no Rio de Janeiro. Sem a definição de um programa de zoneamento no entorno, trechos marginais da estrada são um convidativo vazio urbano para a indústria da informalidade. Que, previsivelmente, já começa a agir ao longo da via, com a ocupação ilegal de lotes para a construção de casas.
Sobretudo no trecho que vai de Japeri a Nova Iguaçu, é intenso o ritmo de ocupação ilegal. Lotes são cercados, placas de "propriedade" são afixadas e proliferam faixas anunciando a venda de terrenos. Como agravante, nesse movimento, em si ilegal, já se registrariam as digitais de grupos milicianos: segundo denúncias, eles estariam por trás de alguns loteamentos. Ou seja, tudo errado.
A leniência com a infraestrutura urbana ao longo do Arco já era uma preocupação da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) em 2012. Um documento da entidade alertava para a necessidade de o governo adotar programas de zoneamento no entorno da via, de forma a atrair indústrias e, por decorrência, incrementar o desenvolvimento econômico da região. Mas a inexistência de planos diretores, da oferta de serviços ( saneamento, abastecimento de água e outros), essenciais para a formalização da ocupação, e de garantias de segurança (do que é evidência a presença de milicianos agenciando a venda de lotes) inibe a instalação de empreendimentos.
A informalidade na ocupação do entorno, além de ilegal, tem outros dois aspectos deletérios. O primeiro já é visível: o Arco foi projetado como via expressa, com poucas saídas. Mas, em diversos trechos, os ocupantes, por conta própria, abriram acessos, um risco para a segurança deles próprios e dos motoristas. Outro é previsível: os focos de favelização precisam ser inibidos, e combatê-los, inevitavelmente, implica remoções de casas. É receita inescapável para futura demanda social.