Dos seis maiores gargalos do trânsito de Niterói, apenas um tem solução prevista

Tempo gasto com locomoção na cidade é cada vez maior

POR LEONARDO SODRÉ

11/07/2015 - O Globo



NITERÓI - Morador de Icaraí, o representante comercial Jorge Valadão trabalha no Centro do Rio há mais de dez anos. Durante esse tempo, ele acompanhou algumas mudanças importantes no transporte público, como a modernização dos ônibus e a substituição das barcas tradicionais por catamarãs sociais, que reduziram a travessia da Baía de Guanabara de 25 para 12 minutos. Mas, segundo ele, as melhorias não tiveram efeito porque, a cada dia, demora mais tempo na viagem de casa ao trabalho.

— Há uns três anos, eu levava uma hora, tanto de manhã quanto no fim da tarde. Hoje levo mais de duas horas — conta Valadão, para quem a situação piorou ainda mais nos últimos dois anos, depois da inauguração do mergulhão da Avenida Marquês de Paraná. — Quando não venho de ônibus, venho de barca e depois pego um ônibus no Centro para Icaraí. Naquele afunilamento na Rua Doutor Celestino, eu perco mais de meia hora — enfatiza.

Ele se refere à sinalização que transforma as três faixas de rolamento em apenas uma, ao fim da Rua Doutor Celestino, para que os veículos que seguem até a Rua Marquês de Paraná não invadam as pistas de saída do mergulhão. Nos horários de rush, o esquema provoca um grande congestionamento na Rua Doutor Celestino, que se estende pela Rua da Conceição até a Avenida Visconde de Rio Branco.

A Rua Doutor Celestino é um dos seis maiores gargalos no trânsito de Niterói, citados por motoristas. Os outros são a Praça Renascença, Praça do Barreto, Rua Mário Viana, Avenida Presidente Roosevelt e Estrada Francisco da Cruz Nunes. Desses, apenas o cruzamento da Praça Renascença, no Centro, tem previsão de obras para melhorar o tráfego.

TESTE DE PERCURSO E DE PACIÊNCIA

Numa quarta-feira, O GLOBO-Niterói fez a viagem do Centro até Icaraí para testar a diferença de tempo no trajeto de ônibus e de carro. A equipe se dividiu, às 18h, na Praça renascença: o motorista seguiu de carro e os repórteres embarcaram no ônibus da linha 61. Como no mergulhão só passam carros, os ônibus que acessam a Avenida Marquês de Paraná, sentido Icaraí, precisam fazer a volta pela Avenida Amaral Peixoto. A viagem de carro até a Rua Miguel de Frias, em frente a reitoria da UFF, em Icaraí, é quase vinte minutos menor. O motorista chegou às 18h12m e os repórteres, às 18h30m.

— É a prova de que o mergulhão só beneficiou quem vem de carro da Ponte — diz o motorista de ônibus José Vicente Souza.

De acordo com a prefeitura, há um estudo para fazer a desapropriação do prédio na esquina das ruas Doutor Celestino e Marquês do Paraná e alargar o trecho, mas não há recursos disponíveis para a iniciativa, nem previsão para a intervenção.

O problema no local é parecido com o de outras regiões da cidade. Enquanto a infraestrutura viária pouco cresceu nos últimos dez anos em Niterói, o número de veículos aumentou 49% — eram 188.382, em 2005; hoje são 282.098, de acordo com o Detran. Para identificar os pontos críticos, O GLOBO-Niterói perguntou a taxistas e rodoviários quais são os maiores gargalos que enfrentam no trânsito. A Rua Doutor Mário Viana, em Santa Rosa, foi uma das citadas. A via, de mão dupla, possui apenas uma faixa para cada sentido, e o trânsito é interrompido quando os ônibus param nos pontos. O taxista Josias Gonçalves passa frequentemente pela rua e se queixa da quantidade de sinais e pontos de ônibus.

— Isso tem que ser sincronizado. Se o ônibus para no ponto não tem porque parar, de novo, poucos metros depois, no sinal. Ou diminui o número de pontos, ou coloca o ponto longe dos sinais, porque do jeito que está, atravanca tudo — reclama.

O prefeito Rodrigo Neves diz que a solução para o local seria construir baias para os ônibus pararem. Mas, de acordo com a própria prefeitura, as baias ainda estão em fase de estudos e só serão construídas onde houver espaço suficiente.


A reversível da Estrada Francisco da Cruz Nunes aumenta a capacidade do tráfego no sentido Largo da Batalha nos horários de rush. - Pedro Teixeira / Agência O Globo

O taxista Carlos Felício é outro que sofre com os congestionamentos. Morador de Itaipu, ele enfrenta dois gargalos no trânsito para chegar ao ponto em que trabalha, no Centro: a Estrada Francisco da Cruz Nunes, na altura do Cemitério Parque da Colina, e a Avenida Presidente Roosevelt, na chegada a Praia de São Francisco.

— A reversível, em Pendotiba, deu uma melhorada, mas aquele sinal da Presidente Roosevelt abre e fecha muito rápido. Passam poucos carros. O engarrafamento vai até a Grota — reclama.

Mesmo a pista reversível tendo melhorado o tráfego em Pendotiba nos horários de rush, o trecho final da mão única, na altura da concessionária de veículos Hayasa, tornou-se um ponto perigoso. Há um mês, a equipe do GLOBO-Niterói flagrou um acidente no local. Um motorista tentou voltar pela pista no sentido Largo da Batalha e, durante a manobra, bateu em outro carro. Ninguém se feriu.

— Isso é a toda hora. Acontece, mesmo com guarda orientando — conta o frentista Rogério Lima, que trabalha perto do local.

No Plano Urbanístico Regional (PUR) de Pendotiba, está prevista a construção de um túnel cortando o Cantagalo para a criação de uma via binária, tornando o esquema da reversível fixo. Mas, segundo a prefeitura, ainda não há previsão para a obra ser realizada. Em São Francisco, o congestionamento da Avenida Presidente Roosevelt vem sendo contornado, de acordo com a NitTrans, com a presença de agentes de trânsito, das 6h às 10h, na esquina com a Avenida Quintino Bocaiúva.

Na Zona Norte, o ponto de maior retenção é na Praça do Barreto. O motorista de ônibus Otávio Paes diz que o cruzamento das ruas João de Deus Freitas, General Castrioto e Doutor March é o mais crítico no percurso da linha em que opera.

— Pela manhã, com o grande fluxo que vem de São Gonçalo e a demora de quatro minutos do sinal para liberar o trânsito, engarrafa tudo. Às vezes, demoro mais tempo para passar naquele trecho do que no restante da viagem — afirma.


O trecho do cruzamento Praça do Barreto é o maior entrave para os veículos que seguem para o Centro - Pedro Teixeira / Agência O Globo

O gargalo da Praça Renascença, formado pelo cruzamento das avenidas Jansen de Mello e Feliciano Sodré, que recebe veículos que vêm da Avenida do Contorno e da Alameda São Boaventura para o Centro e dos que seguem em direção a São Gonçalo e à Ponte Rio-Niterói, também foi lembrado.

— Já demore meia hora ali em dia de chuva. É horrível, pois são várias pistas que desembocam em um lugar só, não tem jeito — diz o motorista de ônibus Cláudio Pereira.

ENGENHEIRO DIZ O QUE RESOLVE

Para o local, está prevista a construção de um mergulhão. A obra, que será executada pela EcoPonte, nova concessionária da Ponte Rio-Niterói, deve começar no meio do ano que vem e durar 18 messes. Na avaliação do engenheiro Gilberto Gomes Gonçalves, especialista em trânsito e professor da Uerj e da UFF, a medida pode resolver definitivamente os engarrafamentos no local:



— A solução mais eficiente para cruzamentos de grande fluxo como esse, o da Praça do Barreto e o de São Francisco, é a separação de planos, através de túneis ou viadutos. No caso da Praça Renascença, se a passagem subterrânea tiver o mesmo número de faixas da pista de origem, vai resolver.

Para o engenheiro, a construção do túnel cortando o Cantagalo, em Pendotiba, também pode solucionar o problema de engarrafamentos no local, já que vai aumentar a capacidade viária no trecho, criando mais faixas. Já a solução de criar baias para os ônibus na Rua Mário Viana, em Santa Rosa, não aumenta a capacidade da via. Nesse caso, segundo ele, o ideal é criar uma via alternativa e, se possível, segregar pistas de carros e ônibus. O alargamento do trecho final da Rua Doutor Celestino, apontado pela prefeitura como a solução das retenções no Centro, mas que ainda não saiu do papel, não é considerado eficaz pelo especialista:

— Liberar o fluxo naquele cruzamento, aumentando o número de faixas através do alargamento, pode levar a retenção para o próximo cruzamento (na esquina com a Miguel de Frias.

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