Recessão acende sinal de alerta para legado olímpico

07/10/2015 - Valor Econômico

A Olimpíada do Rio serviu para alavancar diversos investimentos que estavam engavetados na cidade, mas a crise econômica adiou empreendimentos privados no projeto Porto Maravilha - um dos principais símbolos da revitalização carioca. A recessão também afastou investidores internacionais que planejavam investir na capital fluminense e levou a Prefeitura do Rio a criar um plano para garantir que o legado olímpico não se perca após os jogos de 2016. 

O programa, que ainda será detalhado, prevê investimentos de cerca de R$ 26 bilhões e a ampliação de projetos que constam na matriz de políticas públicas. É uma carteira de obras para depois do período olímpico, justamente para tentar manter aquecida a economia carioca no pós-2016. O atual plano de investimentos para ser entregue até a Olimpíada soma R$ 14,3 bilhões, com projetos de revitalização e mobilidade, e está em fase final de implementação, com orçamentos fechados e obras, em sua maioria, dentro do cronograma. 

Entre as dez propostas do programa que será lançado estão levar o VLT (veículo leve sobre trilhos) para a zona sul da cidade e ampliar os corredores de ônibus BRT. 

A prefeitura acredita que, mesmo com a economia em baixa e as empreiteiras sufocadas financeiramente, haverá interessados para dividir os R$ 22 bilhões do plano destinados à iniciativa privada. 

A administração municipal também quer aprovar um pacote de desburocratização com 12 decretos para reduzir o tempo para abrir e fechar negócios na cidade. 

"Estamos no meio de uma recessão e as obras aqui não pararam, estão completamente em dia", afirmou o secretário municipal de governo, Pedro Paulo Carvalho. "Eu acredito que, ao lançar novos projetos de PPPs [Parcerias Público-Privadas] e concessões, não haverá nenhum problema de falta de mercado. As empresas querem sair da crise e querem arrumar novos negócios", acrescentou. 

Em agosto, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o desemprego caiu na região metropolitana do Rio. Grande parte das vagas geradas foi na construção - 32 mil postos de trabalho em um mês. A taxa de desocupação no Rio ficou em 5,1%, menor que a média das seis maiores regiões metropolitanas pesquisadas, de 7,6%. É nesse setor que a prefeitura vai continuar apostando após a Olimpíada. 

No centro da cidade, é praticamente impossível andar sem esbarrar em um canteiro de obras. Os trilhos do VLT já começaram a ser colocados. O projeto orçado em R$ 1,1 bilhão, com 28 quilômetros de extensão e que interligará a região portuária ao centro, passando pelo aeroporto Santos Dumont, já está 46% pronto. Segundo o consórcio que administra a obra, o cronograma está em dia e tudo será entregue antes dos jogos. 

Na zona portuária, segundo a prefeitura, as obras também seguem dentro do cronograma, com prazos definidos: não podem terminar depois do segundo semestre de 2016. Até junho do ano que vem, todas as novas linhas de BRT na zona oeste, os corredores Transoeste, Transcarioca e Transolímpica, deverão ter sido entregues e, segundo a secretaria municipal de obras, as etapas da construção estão em dia. 

Economistas, porém, temem que à medida que as obras forem sendo entregues o Rio não tenha capacidade para absorver tantos trabalhadores sem emprego, ainda mais com a economia brasileira patinando. 

"Enquanto não se resolver a questão política, a tendência é a situação econômica se deteriorar", afirma o economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauro Osório. "Na economia há uma coisa chamada expectativa. Enquanto estiver essa confusão, o empresário não investe, o consumidor segura o consumo". Para Osório, falta ao Rio de Janeiro uma política clara para incentivar a indústria cultural, esportiva, de turismo e eventos que poderiam, após a Olimpíada, ajudar a impulsionar a economia carioca. 

O ritmo de vendas dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) do Porto Maravilha é um reflexo de como a crise esfriou a procura pelo projeto. Apenas um terço desses documentos que autorizam a construção na zona portuária foram vendidos e menos de 9% foram efetivamente "consumidos". Isso quer dizer, segundo o gerente nacional de fundos para o setor imobiliário da Caixa, Vitor Hugo dos Santos, que a crise tem adiado o planejamento. 

"Alguns projetos são muito grandes, levam tempo, envolvem vários entes locais e isso leva a modificações. Há outros casos onde os empreendedores, por conta da situação econômica, estão evoluindo de uma forma mais lenta. E há ainda aqueles que compraram as Cepacs e estão aguardando o melhor momento para que sejam consumidas, também por causa do cenário econômico", diz ele. 

Ex-secretário de Urbanismo do Rio, que esteve à frente da pasta quando o primeiro projeto de revitalização da área portuária foi criado, Alfredo Sirkis, elogia a iniciativa de tirar do papel o plano, mas teme que sem atrair moradores o investimento não dê certo. "A revitalização da área portuária não pode ser simplesmente a ampliação do centro da cidade como ele é hoje, ou seja, puramente comercial e de escritório. A revitalização da área portuária tem como elemento fundamental a oferta residencial, para mim isso é condição sine qua non de sucesso", disse. 

O secretário Pedro Paulo Carvalho, porta-voz da prefeitura e pré-candidato ao posto hoje ocupado por Eduardo Paes (PMDB), pede cautela com o Porto Maravilha. "O projeto do porto não é um projeto para quem olha a curto prazo. Claro que vive momentos de crise econômica, mas ali é um investimento para quem olha no longo prazo", acrescenta.