Rio terá 260 quilômetros de faixas prioritárias para a família olímpica

Plano de mobilidade para os Jogos não prevê rodízio, mas medida não está descartada
   
POR LUIZ ERNESTO MAGALHÃES 

04/12/2015 - O Globo

Desrepeito à faixa exclusiva era comum nos Jogos Pan-Americanos de 2007 - Marco Antônio Cavalcanti / Agência O Globo (11/07/2007)

RIO — As vias expressas e alguns dos principais corredores de tráfego do Rio terão 260 quilômetros de faixas reservadas para a família olímpica durante os Jogos de 2016. Serão três tipos: exclusivas (ou dedicadas); prioritárias, nas quais os veículos olímpicos vão dividir as pistas com ônibus e táxis (caso dos corredores de BRS e da seletiva da Avenida Brasil), e compartilhadas (onde veículos de passeio também poderão circular). Entre as vias que terão faixas exclusivas 24 horas, estão a Linha Amarela, a Avenida das Américas (entre as avenidas Érico Veríssimo, na Barra, e Salvador Allende, no Recreio), o Túnel do Joá (pista nova) e o Aterro do Flamengo. No caso da Avenida Niemeyer, toda a pista ficará exclusiva para veículos olímpicos e moradores.

As informações constam do recém-concluído Plano Olímpico de Mobilidade, desenvolvido pela prefeitura para o planejamento das operações de trânsito, transporte de massa e logística da cidade. O secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, explicou que a chance de se adotar rodízio em algumas vias é remota, mas ainda não está descartada, assim como a decretação de novos feriados além daqueles já programados para os dias 5 (data da cerimônia de abertura dos Jogos) e 18 de agosto.

PLANO AINDA PODE TER AJUSTES

O plano, apresentado ao Comitê Olímpico Internacional (COI) na semana passada, ainda pode passar por ajustes. A data exata para o esquema entrar em operação ainda não está definida, mas será dias antes da cerimônia de abertura, para facilitar o deslocamento de delegações que chegam à cidade ou se dirigem a locais de treinamento. O projeto foi desenvolvido por especialistas brasileiros e gregos contratados como consultores pela prefeitura. Os técnicos gregos participaram do planejamento de trânsito das Olimpíadas de Pequim (2008) e Londres (2012). As faixas exclusivas serão monitoradas por radares. Segundo a prefeitura, os carros da família olímpica não serão escoltados por batedores, mas a operação de trânsito será reforçada nas vias. Ao todo, haverá 164 quilômetros de faixas dedicadas, 60 quilômetros de prioritárias e 36 quilômetros de compartilhadas. Entre as vias compartilhadas, encontra-se, por exemplo, a Lagoa-Barra, onde, segundo os estudos, seria inviável segregar uma faixa para os “olímpicos”.

‘Faremos avaliações periódicas para verificar se haverá necessidade de rodízio de veículos’

- RAFAEL PICCIANI

Secretário de Transportes do Rio

— A partir desse planejamento, e levando-se em conta os horários das competições esportivas em cada instalação, outras medidas vão começar a ser estudadas. Podem ocorrer alterações em horários de carga e descarga ou nos serviços de coleta de lixo domiciliar, por exemplo — explicou o secretário Rafael Picciani. — Faremos avaliações periódicas para verificar se haverá ou não a necessidade de medidas complementares, como o rodízio de veículos. Mas essa não é a intenção.

Algumas vias serão motivo de atenção especial, como a Autoestrada Lagoa-Barra e a Linha Amarela. Isso porque o plano incluiu o bloqueio da Avenida Niemeyer e a suspensão das faixas reversíveis na Linha Amarela. Algumas medidas já estão sendo adotadas para tentar reduzir o volume de trânsito, como a decretação de recesso escolar.

— Em alguns casos, para garantir a fluidez no trânsito da cidade, vamos precisar que, em alguns corredores, o número de veículos em circulação seja reduzido entre 30 e 40% — explicou o diretor de operações da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Joaquim Dinis.

Uma novidade no transporte de massa será a criação do cartão olímpico — uma espécie de passaporte com o qual os usuários poderão circular no transporte público sem número limitado de viagens diárias pela cidade. O cartão será aceito nos ônibus municipais, metrô, vans credenciadas, trens (inclusive fora dos limites da cidade) e na travessia de barcas entre Rio e Niterói. O cartão poderá ser usado entre os dias 1º e 28 de agosto. Serão três opções: um dia (R$ 25), três dias (R$ 70) e sete dias (R$ 160). A prefeitura e a Riocard ainda não definiram quando terá início a venda dos cartões, que poderão ser comprados não apenas pelo público que for assistir aos Jogos, mas também por turistas e pela população em geral. O programa prevê inclusive a possibilidade de compra do cartão pela internet com entrega pelos correios.

O acesso do público, de voluntários e funcionários terceirizados aos locais de competição só poderá se dar pelo transporte de massa ou táxis. Por isso, o estudo levou em conta ainda a estimativa da demanda por ônibus, trens e BRTs até esses locais, bem como a capacidade das concessionárias de atender à demanda. A análise levará a algumas mudanças no calendário. Previstas para dias úteis, as semifinais do futebol feminino no Maracanã serão reprogramadas do fim da tarde para as 13h, para evitar que as competições coincidam com o horário de pico do transporte público. Em alguns dias, a demanda por transporte até os locais de competição será superior a 600 mil pessoas. Na Barra, na maioria das vezes, o total de usuários que irá para as arenas será superior a 150 mil.

NO PAN, EXCLUSIVIDADE NÃO FOI RESPEITADA

Durante os Jogos Pan-Americanos de 2007, a prefeitura também recorreu às faixas exclusivas (marcadas no asfalto com a cor laranja) para facilitar o deslocamento das delegações. As linhas Vermelha e Amarela, além da Avenida Brasil, ganharam corredores exclusivos, mas os motoristas nem sempre obedeceram às normas, apesar da sinalização. A prefeitura ajustou os radares eletrônicos das vias expressas para flagrar os veículos invasores, mas a iniciativa não impediu as bandalhas.

Um teste feito pela Secretaria de Transportes na Avenida Ayrton Senna, próximo à Vila do Pan, revelou que, em apenas quatro dias, foram registradas 10.977 infrações. Os invasores de faixa foram punidos com multa de R$ 127 e perda de cinco pontos na carteira.

Além das faixas exclusivas, havia também as preferenciais. Linhas tracejadas foram implantadas em algumas das principais vias da cidade, como Túnel Rebouças e Aterro do Flamengo. Qualquer motorista podia usar essas faixas, mas tinha de dar preferência aos veículos que transportavam atletas e demais membros da família do Pan.

Nos primeiros dias de competição, motoristas enfrentaram longos engarrafamentos por causa das faixas exclusivas. Na Linha Amarela e na Autoestrada Lagoa-Barra, o trânsito ficou caótico. O problema atingiu até quem tinha prioridade no trânsito: carros, vans e ônibus que transportavam delegações do Pan também ficaram retidos nos congestionamentos, em parte porque motoristas não respeitavam a sinalização.

Na época, o membro do Comitê Olímpico Uruguaio Gilberto Saens criticou o fato de os motoristas não respeitarem as faixas: “É incrível levar duas horas da Vila do Pan à Lagoa. Talvez seja preciso repensar, para uma Olimpíada, os locais escolhidos para algumas competições e concentrar os eventos na Barra”.

O calendário escolar também foi adaptado para desafogar o trânsito durante os Jogos Pan-Americanos. Escolas públicas e particulares do município remanejaram as férias para coincidir com o período dos Jogos.

Terminada a competição, o então subsecretário municipal de Transportes, Dalny Sucasas, avaliou que, em caso de o Rio sediar as Olimpíadas, seria necessário lançar, com meses de antecedência, uma campanha educativa para os motoristas respeitarem as faixas exclusivas. Até agosto de 2016, ainda tem tempo.

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