08/10/2016 - O Globo
RIO - Inaugurado em 2014 com a expectativa de incentivar a economia do estado, o trecho do Arco Metropolitano entre Duque de Caxias e Itaguaí, que custou cerca de R$ 2 bilhões, é hoje subutilizado. Com a crise econômica, o movimento de carga caiu, e houve redução no número de carros de passeio. Sem qualquer ponto de apoio para motoristas e até de postos de combustíveis em seus 71 quilômetros, o Arco tornou-se uma via de pouco movimento. Para o presidente da Câmara Metropolitana de Integração Governamental, Vicente Loureiro, a solução para viabilizar a rodovia é a concessão à iniciativa privada, com cobrança de pedágio.
SEM CONTAGEM DE VEÍCULOS
No ano passado, o movimento era de cerca de 15 mil veículos por dia, metade do que havia sido previsto. Estima-se que hoje já estaria na casa dos 6 mil, mas, como o contrato com a empresa que fazia a contagem de tráfego foi suspenso no ano passado, por causa da crise no estado, não existem números atualizados.
— O Arco Metropolitano ficou pronto na hora em que economia começou a estagnar. O movimento de carga reduziu, e a pouca utilização acabou trazendo insegurança. Não há posto de informação nem qualquer apoio aos motoristas. Já nos reunimos com investidores e empreendedores que poderiam se instalar no Arco, mas não houve interesse — disse Vicente Loureiro. — O governador (licenciado) Luiz Fernando Pezão queria estadualizar a rodovia (que é federal, embora seja administrada por meio de convênio pelo estado), mas, com a crise financeira, isso não foi adiante.
A falta de sinalização sobre os acessos ao Arco Metropolitano é outro ponto citado por Vicente Loureiro:
— Nas estradas federais que ele (o Arco) corta, falta sinalização. O usuário não tem a percepção de que pode encurtar caminho.
O projeto teve início em 2008, e o primeiro trecho da rodovia deveria ter ficado pronto em setembro de 2010. Mas, três anos depois, apenas 35% tinham sido executados. As obras só foram aceleradas em 2012 e concluídas em 2014. O Arco foi pensado com uma via alternativa para o escoamento do tráfego pesado da Região Metropolitana, desafogando as esgotadas Avenida Brasil, Rodovia Presidente Dutra e a BR-040 (Rio-Petrópolis). Os cerca de 70 quilômetros ligam Itaguaí a Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde se conecta à BR-116 (Rio-Teresópolis) e à BR-493 (Magé-Manilha). Todo o trecho teria 145 quilômetros de estrada no entorno da Região Metropolitana do Rio, ligando as cidades de Itaboraí, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Seropédica e Itaguaí.
No entanto, as obras estão paralisadas no trecho entre Magé e Manilha, sob responsabilidade do governo federal. Os trabalhos de terraplanagem para a duplicação chegaram a ser iniciados, mas, segundo Vicente Loureiro, estão parados e sem prazo para serem retomados. Em uma placa instalada às margens da rodovia, a data de conclusão foi remarcada e agora consta fevereiro de 2018.
Para quem passa pelo Arco, a preocupação é constante. Além de não haver qualquer ponto de apoio ou telefones para os usuários, em vários trechos não há sinal de celular.
— Só passo lá durante o dia e, mesmo assim, raramente. Quando vejo que há congestionamento na Avenida Brasil, vou pelo Arco. Fico com medo de o carro enguiçar e não ter como pedir socorro — disse o comerciante Marcelos dos Santos, que costuma ir para Angra dos Reis de carro.
Na quarta-feira, o motorista de um caminhão de cargas foi rendido e roubado no Arco Metropolitano. Vindo de São Paulo, parou o caminhão depois que um tiro disparado por um dos bandidos atingiu o para-brisa do veículo. Ele foi mantido refém enquanto criminosos retiravam a carga, avaliada em R$ 290 mil. O homem, que tinha sido levado pelos bandidos para um barraco no alto do Morro da Quitanda, em Costas Barros, foi libertado por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) depois de uma intensa troca de tiros entre os agentes e os criminosos.
Não há estáticas específicas sobre o número de assaltos ocorridos no Arco Metropolitano. O Instituto de Segurança Pública (ISP), responsável pelas estatísticas de violência no estado, não tem um recorte específico da rodovia.
Perguntada sobre o esquema de policiamento, a Polícia Militar apenas enviou uma nota informando que o patrulhamento é realizado pelo Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) com carros que fazem rondas durante 24 horas.
A ocupação desordenada e a consequente favelização das margens da rodovia são outra preocupação. Há sete meses, a Câmara Metropolitana de Integração Governamental utiliza drones para fazer o monitoramento com o objetivo de identificar as áreas de risco, de ocupação, de impacto ambiental e as atividades econômicas situadas na faixa de domínio da rodovia.
OCUPAÇÃO DAS MARGENS
O mais recente relatório, segundo a Câmara, identificou dentro da faixa de domínio da rodovia, entre abril de 2015 e setembro deste ano, 42 delimitações de terreno (construções de cercas e muros), sete tentativas de construção, quatro pontos de comércio e três movimentações de terra, todas irregulares. Na rodovia, foram identificados 44 acessos e sete travessias irregulares. Todas as ocorrências foram notificadas ao DER.
O monitoramento mostrou ainda que, no entorno do Arco, foram verificadas cerca de 12 construções durante e após a inauguração da rodovia, sendo nove no município de Nova Iguaçu e três em Japeri. Também foram identificadas movimentações de terra nos municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Seropédica e Itaguaí. Todas as prefeituras já foram notificadas para que providências sejam tomadas nos casos de irregularidade.
Em Vila de Cava, em Nova Iguaçu, existem várias construções irregulares. Lá, inclusive há um acesso, aberto por moradores, que tem movimento intenso de veículos durante todo o dia.