Trump atraca no Porto

19/12/2012 - O Globo online, Luiz Ernesto Magalhães

O empresário americano Donald Trump Júnior em parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF) e sócios do Brasil e do exterior anunciaram na manhã desta terça-feira no Rio o que consideram ser o maior investimento em escritórios corporativos já realizados nos países que integram os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O plano consiste em construir cinco torres comerciais com 38 andares cada um em um terreno de 32 mil metros quadrados na Avenida Francisco Bicalho. O valor estimado de todos os imóveis da Trump Towers Rio fica entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões.

A previsão é que as duas primeiras torres comecem a ser construídas no segundo semestre de 2013 sendo concluídas antes dos Jogos Olímpicos de 2016. As demais torres serão erguidas conforme a demanda do mercado. O terreno escolhido pertence hoje a Companhia Docas do Rio de Janeiro que o arrenda ao Clube dos Portuários que faz parte do projeto Porto Maravilha. O imóvel está sendo adquirido pela prefeitura por R$ 135,3 milhões que vai repassá-lo pelo mesmo valor ao Fundo Imobiliário da Caixa Econômica Federal (CEF) que controla a emissão de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) no Porto. A CEF será sócia do empreendimento.

- Tenho muita fé no projeto. Para nós, investir no Rio de Janeiro e no Brasil será algo fantástico - disse o milionário Donald Trump que comanda o grupo, em uma mensagem gravada apresentada em telão.

A apresentação do projeto ocorreu no Palácio da Cidade, em Botafogo. Donald Trump Júnior revelou que o grupo também está interessado em investir no setor hoteleiro de luxo das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Executivos da empresa estão no Rio sondando o mercado. Ele não revelou se marca Trump de hotéis poderia entrar no país com a compra de algum empreendimento já existente ou com a construção de um imóvel pronto.

_ A marca Trump demonstra uma confiança fantástica dos empresários no Rio de Janeiro. Com o Porto Maravilha a cidade reverteu a lógica de abandonar áreas degradadas e continuar a se expandir territorialmente - disse o prefeito Eduardo Paes.

Os sócios, além do Grupo Trump e do Fundo Imobiliário da CEF são a MRP Internaationa, o Grupo Salamanca com investimentos principalmente no exterior . Eles se associaram a Even Construtora e Incorporadora, uma das líderes do mercado mobiliário paulista.

O local escolhido para o projeto é vizinho ao terreno onde está sendo construída a futura Vila de Árbitros e de Mídia dos Jogos Olímpicos de 2016. Após as Olimpíadas, esses imóveis serão ocupados por servidores públicos que devem começar a adquirir unidadees a partir do ano que vem pelo programa de carta de créditos da prefeitura. O terreno é um dos que tem o gabarito mais elevado do Porto maravilha : 50 andares ou 150 metros de altura. Apesar do projeto prever apenas 32 andares, os imóveis chegaaão aos 150 metros. Ao todo, as cinco torres deverão ter mais de 300 mil metros quadrados de área constrruída.

Impacto de projeto divide opiniões

A proposta de construir no Porto torres de vidro com gabarito elevado - características dos empreendimentos Trump - dividiu opiniões entre arquitetos. Para Alfredo Brito, construções envidraçadas como as Torres Trump são um símbolo da falta de criatividade. A arquiteta Gizzeli Gomes Rocha, no entanto, da equipe brasileira que desenvolve o projeto, lembrou que existem muitos prédios modernistas no Rio que são envidraçados. Segundo ela, assim como os exemplares modernistas, as torres terão "brise-soleils" (dispositivos arquitetônicos que impedem a incidência direta de raios solares, reduzindo o calor).

O arquiteto Augusto Ivan, que participou dos primeiros estudos de revitalização da Zona Portuária, destaca que, na Avenida Francisco Bicalho, não existem marcos arquitetônicos que poderão sofrer interferência visual com as torres. Carlos Fernando de Andrade, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), por sua vez, destacou que a principal questão não é o gabarito elevado, mas qual será a área total edificável do terreno. No caso da Francisco Bicalho, os investidores poderão construir até 322 mil metros quadrados (o equivalente a dez vezes a área total terreno).

- Torres altas não são o problema. Mas acho um absurdo um projeto que pode ocupar uma área tão grande, por causa do adensamento - avaliou.I

Augusto Ivan, por sua vez, observou que a área total edificável no Porto Maravilha é bem menor do que no restante do Centro (onde é permitido construir até 15 vezes a área do lote).