Sem passarela, estudantes usam mureta para caminhar até escola

11/10/2014 - O Globo


Estudantes estão correndo risco no deslocamento diário para a escola, no Centro. São moradores do Santo Cristo e da Cidade Nova que diariamente se equilibram na divisória de concreto de cerca de 60 centímetros de largura que separa as quatro pistas do Elevado Trinta e Um de Março, erguido para servir de ligação viária dos bairros e principal acesso ao túnel Santa Bárbara.

Sem passarelas, o atalho perigoso e improvisado é usado pelos alunos das escolas da região e por moradores. Cerca de 15 mil pessoas vivem em locais próximos ao viaduto. Mas nem sempre foi assim. Até 1978, os moradores tinham a opção de usar duas passarelas que passavam sobre a linha férrea da Central do Brasil, postas abaixo com a construção do metrô.

Um levantamento do Corpo de Bombeiros feito a pedido do GLOBO revela que, de janeiro a setembro, uma pessoa morreu e outra ficou ferida após serem atropeladas no elevado. Moradores relatam, no entanto, pelo menos duas mortes em um ano.

— É um absurdo que a gente tenha que correr tanto risco. Sem usar o atalho, tenho duas opções: pegar um ônibus para cruzar cerca de 700 metros, pagando caríssimo, ou dar uma volta enorme pela Central do Brasil, caminhando mais e correndo risco de assaltos — diz a dona de casa Lúcia da Silva, de 38 anos.

Moradora da Cidade Nova, Lúcia passa pelo local duas vezes por dia. Normalmente leva a filha, de 10 anos, numa mão, e a mochila dela na outra. Não é a única: centenas de pessoas passam pelo viaduto diariamente. Nos horários de rush, de manhã e à tarde, dezenas de trabalhadores percorrem o caminho. Crianças uniformizadas, sozinhas, também se arriscam. Ignoram avisos em placas alertando não ser permitida a passagem de pedestres e de bicicletas.

— É minha cota diária de acrobata — brinca Lúcia, apressada.

REGIÃO TEM 7 MIL ALUNOS

As redes estadual e municipal de ensino têm 7.502 alunos matriculados em três escolas da região. A Secretaria municipal de Educação lembra que as diretoras das unidades escolares orientam os alunos a não utilizarem o viaduto como passagem. Ainda assim, a pasta ressalta que os diretores de cada escola vão se reunir com os pais para discutir o assunto.

— Se existe risco e possibilidade de um único óbito, está errado. É necessário rever o projeto. Nenhum óbito é admissível — diz o engenheiro civil Manoel Lapa, vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) e membro do Conselho Municipal de Transporte.

Em nota enviada ao GLOBO, a prefeitura informou que a Concessionária Porto Novo instalou gradil na Rua da América, próximo ao Elevado Trinta e Um de Março, a fim de impedir a passagem neste ponto. Ainda segundo a nota, no local foram instaladas "placas que sinalizam a proibição de passagem de pedestres ou ciclistas ao longo da via".