07/02/2025 - Diário do Rio
Por Quintino Gomes Freire
Bola da Vez: O histórico e imenso templo da Praça XV se aproxima de sua ruína e os técnicos do Iphan recomendam ação imediata, citando até possíveis danos ao templo vizinho. Porém, o órgão decidiu dar prazo de 9 anos para que as obras sejam realizadas. Veja fotos chocantes
O desabamento, com vítimas, da “Igreja de Ouro” da Bahia chamou atenção de todos para o que vem ocorrendo também com obras de arte que fazem parte do patrimônio cultural carioca. Um tesouro da memória do Rio que sofre com o descaso e o abandono há muitos anos – já foi objeto de denúncia aqui no DIÁRIO – é a Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, do Mestre Valentim, na Praça XV, de propriedade da latifundiária Ordem Terceira do Carmo, uma organização religiosa autônoma em relação à Arquidiocese do Rio. Se em 2022 sofria com risco de incêndio, estava tomada por cupins e se encontrava em estado “péssimo”, segundo laudo do órgão federal, hoje a situação é de quase ruína. Mesmo assim, após o ativo lobby do deputado federal Reimont Luiz Antônio Santa Bárbara (PT-RJ) junto à Presidência do Iphan em Brasília, a ordem – famosa pelo contumaz desaparecimento de objetos de arte do seu acervo tombado – ganhou de presente 9 anos para realizar as obras necessárias. As fotos, porém, demonstram que o bem pode não resistir.
Laudo de 2022 já dizia que “As fissuras que ‘cortam’ a igreja num plano vertical paralelo à fachada passando no alinhamento do primeiro módulo da galeria lateral / tribuna deverão ter suas causas investigadas. Este mesmo plano de fissuração também atinge a igreja vizinha“. Se a opinião técnica da antiga fiscal Catherine Gallois trazia um cenário de caos, agora um novo laudo público, constante do processo SEI 01500.004690/2019-16, gerou uma Nota Técnica após vistoria realizada no local pela fiscalização do Iphan, agora a cargo da fiscal Márcia Lopes. As vistorias, realizadas nos dias 26 e 27/03/2023 constataram a “visível piora” do estado do imóvel fechado desde 2019 e sua “degradação mais avançada”, em comparação com a visita de 2022, que gerou a última reportagem. Segundo a fiscal que esteve lá, “os forros, alvenarias e peças do acervo se despedaçam aos poucos diante dos nossos olhos“. Ela destaca que não foi realizada nenhuma ação para evitar a perda dos materiais originais. Ela continua com sua narrativa, que é de filme de terror: explica que o imóvel é “uma imagem aterrorizante de destruição“. Cita também o alagamento dos degraus, que sofreram lesões graves, por conta das chuvas que descem pelas alvenarias e já destruíram o forro e madeira, esquadrias e as pinturas murais. Cita o “estado bastante precário”da cobertura, calhas e dutos de águas pluviais, causadores do arruinamento da igreja, que é vizinha à Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, que foi restaurada e é de propriedade da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
O lindo templo barroco virou também depósito de lixo e entulho, demonstrando claramente o nível de cuidado que os apadrinhados do deputado petista – que conseguiram nos anos 90 ver o sumiço a mais de 500 peças de arte sacra, que incluem quadros de quase 4 metros de altura retratando a vida de Jesus Cristo, em caso que foi investigado na época pela Delegacia Fazendária e terminou em pizza, mesmo sem sinais de arrombamento no cofre forte, e não havendo explicação para como se retiram tantos objetos de um a igreja em plena Praça XV sem uma frota de caminhões de mudança. As instalações elétricas do templo seguem precárias, e a cúpula recebe infiltração de água da chuva. Um laudo anterior chega a colocar em dúvida se os reforços estruturais que foram feitos no telhado são seguros. Recentemente, o famoso historiador Paulo Rezzutti postou em seu instagram sobre sua preocupação com o templo, um dos mais importantes do país.