INVESTIGAÇÃO
Pastor escolheu advogado para defender pintor
Publicada em 21/04/2010 às 20h33m
Antônio Werneck - O Globo - 21/04/2010RIO - O pintor Paulo Souza dos Santos, de 28 anos, um dos autores das pichações na estátua do Cristo Redentor, revelou nesta quarta-feira que pretendia apenas fazer um protesto e chamar a atenção da sociedade para o desaparecimento de pessoas no Rio.
(Veja imagens da estátua do Cristo Redentor pichada)Ele pediu desculpas, garantindo ser católico, e disse que sua intenção jamais foi profanar a imagem ou discriminar qualquer religião. Paulo prometeu se apresentar na manhã desta quinta-feira aos policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA).
- Primeiro pensei em confeccionar uma faixa e pendurar no Cristo Redentor. Não deu tempo e resolvi pichar. O que eu fiz foi um protesto, não um ato terrorista de um bandido, como alguns chegaram a dizer - contou Paulo, que nasceu no Morro do Cantagalo, em Ipanema.
O que eu fiz foi um protesto, não um ato terrorista de um bandido
A decisão de procurar policiais e se apresentar foi tomada depois de consultar amigos, que o aconselharam a buscar a ajuda do pastor Marcos Pereira. Na igreja de Pereira, Paulo recebeu apoio espiritual e jurídico - o advogado Alexandre Magalhães Braga foi escalado para acompanhá-lo.
- Ele veio até nós indicado por amigos. Explicamos que o que ele fez foi grave e que deveria se apresentar à polícia, revelar seus motivos. É um rapaz bom, casado, tem filho e trabalha. Não tem ficha na polícia. Ele assumiu seu ato e agora vai responder pelo que fez, com o nosso apoio jurídico - disse o pastor.
Paulo disse que chegou ao Cristo Redentor por volta das 2h, sem encontrar qualquer obstáculo. Para percorrer o caminho dos trilhos do bondinho pela mata, ele disse ter contado com a experiência dos tempos de Exército, onde praticou triatlo. Uma vez na base da estátua, usou os andaimes instalados para um reforma com o objetivo de atingir os pontos mais altos do monumento, escolhido como uma das maravilhas do mundo moderno.
O delegado da 9ª DP (Catete), Carlos Augusto Nogueira, passou o dia negociando com o advogado do outro suspeito de pichar o Cristo Redentor, Edmar Batista de Carvalho, o Zabo, para que o acusado se entregasse. Segundo o delegado, Edmar e Paulo já podem ser considerados foragidos, mas caso compareçam à delegacia espontaneamente, poderão presta depoimento e ser liberados em seguida.
Os dois responderão por injúria por discriminação, com pena de um a três anos de prisão; e crime ambiental, com pena de seis meses a um ano. O monumento foi pichado no último dia 15.
- Se eles não se apresentarem, podem ser presos em flagrante. Os dois ainda são considerados foragidos, pelo fato de a perseguição estar sendo ininterrupta. Estamos levantando o paradeiro deles. O advogado de Edmar está tentando convencê-lo a se entregar na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente - explicou o delegado.
A investigação para chegar aos pichados seguiu três linhas: o depoimento de uma testemunha, informações ao Dique-Denúncia e a infiltração de dois policiais - um homem e uma mulher de aparência jovem - em três encontros de gangues de pichadores. Sem se identificar, o policial que se infiltrou contou que duas dessas reuniões aconteceram em Bangu, na Zona Oeste, e a outra, numa praça em Coelho Neto, na Zona Norte.