Autoridades anunciam medidas para evitar que Angra 3 provoque expansão de favelas

DESORDEM


Publicada em 12/06/2010 às 18h28m
O Globo - 12/06/2010
LUBIANA com a filha: ela veio do Ceará para tentar uma vaga nas obras de Angra 3 e alugou uma quitinete no Morro da Boa Vista: 'Espero conseguir emprego em Angra e construir minha casa aqui' / Foto de Márcia Foletto - O Globo
RIO - Três meses antes de a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) conceder a licença para a construção dos prédios e do reator da usina Angra 3 - o que ocorreu em 31 de maio -, a cearense Lubiana do Carmo de Souza, de 24 anos, trocou Saboeiro por Angra dos Reis. Trouxe a filha Giovana, de 6 anos, e alugou por R$ 150 uma quitinete no alto do Morro da Boa Vista, em Mambucaba, na divisa de Angra com Paraty. Lubiana se cadastrou no canteiro da Andrade Gutierrez - construtora responsável pelas obras de Angra 3 - e, enquanto aguarda ser chamada, vive de "bicos".
Reportagem de Selma Schmidt publicada na edição deste domingo de O GLOBO mostra que autoridades, ambientalistas e responsáveis por condomínios estão preocupados com o impacto urbano da chegada a Angra de muitas "Lubianas" atraídas por emprego. Para tentar evitar a expansão da favelização - como a que aconteceu durante a construção de Angra 1 e 2, da Rodovia Rio-Santos, do estaleiro Verolme (atual Brasfels) e do terminal marítimo da Petrobras -, as secretarias municipal de Meio Ambiente e estadual do Ambiente, além do Ministério Público, anunciam medidas. A prefeitura, por exemplo, proibiu em decreto a construção de alojamentos. E aumentou o número de fiscais e o valor das multas por construções irregulares.
(Veja imagens da favelização em Angra)
- Espero conseguir emprego em Angra e construir minha casa por aqui - diz Lubiana, que foi estimulada a se mudar para Angra pelo pai e pelo amigo Francisco Antônio Gomes da Silva, que migraram há mais tempo, a fim de trabalhar nas obras, que começaram ano passado, de preparação do terreno para receber a nova usina.
Secretário: até 80% das casas são ilegais
O rastro de destruição no passado foi grande. O secretário municipal de Meio Ambiente, Marco Aurélio $, estima que de 70% a 80% das habitações em Angra - em favelas, além de loteamentos e construções não licenciados - sejam irregulares. A população do município também saltou a partir de 1970. Pelos números do IBGE, passou de 40.276, em 70, para 168.664, em 2009. Marco Aurélio acredita que o número de habitantes tenha se multiplicado por cinco e já chegue a 200 mil:
- Existem pouquíssimas áreas para fazer ocupações ordenadas. Até no Parque da Serra da Bocaina houve invasão. Angra 3 deve absorver, durante os seis anos de obras, nove mil trabalhadores diretos.
Mesmo os deslizamentos de janeiro, que deixaram dezenas de mortos, não serviram para frear construções sem licença e em áreas de preservação. Esta semana, a prefeitura promete demolir 14 na Vila Histórica de Mambucaba e na Serra da Bocaina.