Moradores transformam imóveis do PAC do Complexo de Manguinhos em lojas, bares e até açougue

A aceleração da desordem


Publicada em 13/08/2010 às 23h15m
O GloboRIO - Moradores de pelo menos uma dezena de apartamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no complexo de Manguinhos, na Zona Norte, estão transformando os imóveis que receberam gratuitamente do governo federal em estabelecimentos comerciais, conforme mostra reportagem de Marcelo Dutra e Cláudio Motta, na edição deste sábado do GLOBO. No Condomínio João Nogueira, é possível ver bares, quitandas, lojas de ferragens e bazares à beira da Avenida Suburbana. Há até um açougue com um frigorífico improvisado na sala de um dos apartamentos térreos. Pela regra, os imóveis não podem ser alugados, transformados em pontos comerciais ou modificados. O governo do estado, que atuou no local em parceira com a União, avisa que poderá retomar as moradias.
Os exemplos são muitos. Em outra unidade habitacional, há um bar com mesa de sinuca e uma jukebox, ao lado de prateleiras lotadas de doces e salgados. Pelo menos dois dos apartamentos do condomínio, que viraram pontos comerciais, são sublocados por R$ 300,00. Segundo as pessoas que exploram os negócios, os proprietários se mudaram para outras comunidades.
As mudanças na arquitetura dos apartamentos também podem ser consideradas irregulares, embora algumas, como a instalação de aparelhos de ar condicionado, tenham sido autorizadas pelo governo. O uso de grades ainda está sendo discutido. Mas alguns moradores já protegeram suas janelas, alegando que se sentem inseguros.
O condomínio tem 396 unidades habitacionais, cada uma com 42 metros quadrados. São dois quartos, sala, cozinha, banheiro e varanda. A obra foi parcialmente inaugurada em dezembro do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e custou aos cofres públicos cerca de R$ 53,2 milhões. O objetivo era beneficiar duas mil pessoas daquela comunidade.
O arquiteto da empresa Metrópolis Projetos Urbanos (MPU), Jorge Jauregui, que desenhou os edifícios de Manguinhos, minimizou o impacto das alterações feitas pelos moradores. Para ele, os moradores ainda estão aprendendo a viver num condomínio. Jorge destaca a importância do trabalho social, que vai ensinar a eles as diferenças entre espaço público e privado.
Antes da mudança para um dos apartamentos, o morador teve que participar de um curso de 15 horas, com no mínimo 75% de presença. Caso contrário, ele não receberia as chaves. Nas palestras, eles são informados que não podem alugar o apartamento nem fazer modificações fora do padrão. De acordo com a Empresa de Obras Púbicas (Emop), órgão do governo do estado, uma equipe do PAC social será enviada na próxima terça-feira para convencer os moradores a desfazerem as alterações feitas. Quem não respeitar as normas de conduta poderá perder a casa.
Leia a íntegra desta reportagem na edição de hoje de O Globo digital (disponível somente para assinantes)