A nova cidade do petróleo

09/08/2011 - O Globo, Especial Itaboraí

Nada será como antes em Itaboraí. O início dos trabalhos para a implantação da sede do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) no município, no fim do ano passado, deu a largada para expansão habitacional, econômica e imobiliária tão intensa, que é como se a cidade estivesse nascendo outra vez. A expectativa da prefeitura é de que salte dos atuais 218 mil moradores, segundo o IBGE, para 600 mil (175%), em dez anos. Novas necessidades e a oferta de recursos financeiros provocam onda de investimentos em saneamento, infraestrutura e meio ambiente, incrementam serviços públicos, aumentam o trânsito de automóveis, fazem subir edifícios residenciais e comerciais. É outra cidade que começa a ser construída.

"Há mais ou menos três anos, surgiu a notícia de que a Petrobras teria escolhido o município para uma refinaria", lembra o prefeito Sérgio Alberto Soares.

"Começava a mudar a história de Itaboraí, Esperamos, agora, que haja receita para suportar esse crescimento. Precisamos de grande parceria entre Estado e União", destaca.

Foram 450 registros de novas empresas na cidade em 2010. Até dezembro, devem ser mais 600: prestadores de serviços, lojas de material de construção, empresas de transporte e logística, de construção civil. Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Adelmo Santos, a prefeitura criou comissão para definir formas de "flexibilizar" a instalação das empresas - por exemplo, simplificando a concessão de "habite-se". E o código tributário municipal já assegura a todos os empreendimentos a redução de 5% para 2% no ISS durante os 12 primeiros meses de funcionamento.

"De um ano para cá, Itaboraí vive crescimento incomum e vertiginoso", comemora Santos. Na área imobiliária, ele calcula 400 novos projetos em 2009; outros 1,2 mil em 2010; e, até junho deste ano, já somava mais 700. "Rede hoteleira, condomínios, unidades industriais ou comerciais, galpões, complexos de lojas, casas, supermercados".

Iniciados no ano passado, o secretário avalia que existam 30 grandes projetos em construção, quase todos com a conclusão prevista entre 2013 e 2014 - ano em que o Comperj estará em pleno funcionamento e quando Itaboraí possivelmente terá 50 mil novas unidades habitacionais. A maior parte das iniciativas está no eixo da Rua 22 de Maio, no seu trecho próximo ao Centro - Praça Visconde de Itaboraí, onde estão a prefeitura, o teatro João Caetano e o Centro Cultural.

Para que a expansão se faça de forma ordenada e com suporte adequado de infraestrutura, decreto municipal criou a Comissão de Urbanismo, formada por engenheiros e arquitetos. Eles vão mapear as zonas de crescimento de Itaboraí para subsidiar as propostas de novas vias e outros investimentos. Para o secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Ricardo Guimarães, que também preside a comissão de relacionamento entre Prefeitura e Comperj, o complexo da Petrobras se compara a uma "locomotiva". "Os derivados serão processados na indústria de transformação de plástico - fábricas de peças de automóveis, computadores, equipamentos domésticos. Todas elas podem vir para Itaboraí na fase final de construção do Comperj", acredita.

Movimento que já começa a repercutir no caixa da cidade. A previsão é recolher R$ 80 milhões com ISS até o final deste ano, em comparação aos R$ 45 milhões arrecadados em 2010.

Aumento devido, principalmente, aos prestadores de serviços em atividade no Comperj. Só de royalties da Petrobras, a estimativa é que alcance cerca de R$ 12 milhões. O orçamento de Itaboraí já aumentou 92% este ano, para R$ 603 milhões, incluindo recursos próprios (20% ou R$ 220 milhões em impostos, sendo 10% destinados a investimentos), repasses federais, inclusive para obras do PAC, entre outras fontes.