Tempos de glória para o bairro da Glória

26/08/2012 - O Globo

Obras fazem preços de imóveis usados subir 200% em quatro anos

Operários trabalham na obra do futuro Gloria Palace, que terá 346 quartos e, na cobertura, piscina com fundo de vidro Ana Branco / Agência O Globo
RIO Membro do Conselho Comunitário da Glória, Roberto William Walter que mora no bairro desde 1984 e nas redondezas desde 1940 garante nunca ter visto tantas edificações serem reformadas e restauradas no lugar. São obras e mais obras, que prometem modernizar e criar uma nova Glória, que, em maio, ganhou também uma Unidade de Ordem Pública (UOP) e teve o Morro Santo Amaro ocupado por homens da Força Nacional. As âncoras desse processo são o tradicional Hotel Glória, o prédio onde funcionou a antiga TV Manchete, a Villa Aymoré e um conjunto de três edifícios residenciais na esquina das ruas da Glória e Conde de Lages, que se transformará no Centro Empresarial Ernesto Fontes.

Tamanha ebulição já está se refletindo no mercado imobiliário. Vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi Rio), Leonardo Schneider contabiliza, nos últimos quatro anos, um aumento médio de 200% no valor do metro quadrado de venda de imóveis usados na Glória, mais do que os 150% da cidade como um todo. No mesmo período, o preço dos aluguéis cresceu 130% no bairro, 30 pontos percentuais acima da média do município.

Esta região tinha ficado esquecida. Agora, está se renovando e atraindo sedes de escritórios de empresas analisa Schneider.

Roberto William Walter vai além:

A tendência do Centro é se expandir. E a Glória já virou Centro da cidade.

Na construção do que será o Gloria Palace Hotel estão sendo investidos R$ 300 milhões e trabalham atualmente 250 pessoas. Mas o número de funcionários saltará para 600 no pico da obra. Aberto em 1922, o antigo Hotel Glória foi comprado em 2008 pelo Grupo EBX, do empresário Eike Batista. O primeiro projeto, licenciado em janeiro de 2010 a torre histórica seria hotel e a executiva teria escritórios , foi modificado. Em janeiro deste ano, saiu a nova licença: os dois prédios serão hotel.

Segundo Marco Adnet, diretor da REX, braço imobiliário do Grupo EBX, o novo hotel com 64 mil metros quadrados de área construída e 346 unidades hoteleiras deve começar a operar no primeiro semestre de 2014. Os menores quartos terão 40 metros quadrados e as cinco suítes executivas, 85 metros quadrados. Cada uma das duas suítes presidenciais terá 300 metros quadrados. A piscina ficará na cobertura, com vista para a Baía da Guanabara, do Pão de Açúcar, do Aterro do Flamengo e da Marina da Glória. Como terá fundo de vidro transparente, poderá ser vista do lobby. O hotel terá ainda centro de convenções, salas de reunião, spa, lojas de grife e restaurantes.

O Gloria Palace estará entre os dez hotéis mais cobiçados do mundo para turismo de luxo e de negócios assegura Adnet.

Para a vizinhança do hotel, o grupo EBX também tem planos. Em 45 dias, espera concluir o projeto do Corredor Cultural da Glória, que pretende transformar o morro da Igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro numa espécie de Montmartre carioca. A ideia é recuperar a escadaria de acesso (hoje fechada) e o plano inclinado do Outeiro da Glória. No caminho, ficariam artistas plásticos, floristas e músicos, que dariam o tom francês à ladeira. A proposta inclui a adoção das praças Juarez Távora e Luís de Camões. Depois de apresentado a acionistas e parceiros do grupo, o projeto precisa ser aprovado pela prefeitura e Igreja.

Outra vizinha, desde 2009 sob concessão da EBX, a Marina da Glória teve o projeto conceitual de reforma aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O projeto que Adnet chama de legal foi entregue à Superintendência Regional do instituto. Agora, o próximo passo é seu encaminhamento a Brasília, para ser analisado pela Câmara Técnica de Patrimônio do Iphan.

Presidente da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário, José Conde Caldas vislumbra um futuro promissor também para o mercado de imóveis novos na Glória, que se irradia pelo Catete. Como um empreendimento no terreno remanescente do metrô que a construtora Concal adquiriu na Rua do Catete, onde funcionava um posto do Detran. Será um residence service, com 98 apartamentos de sala e dois quartos e 16 lojas no térreo.

O prédio ainda não foi lançado e já há interessados em comprar quatro lojas à vista. Cada uma será vendida por R$ 2,25 milhões ou R$ 20 mil o metro quadrado. Os apartamentos custarão R$ 700 mil, R$ 12 mil o metro quadrado diz Caldas.