O discreto charme de outras joias arquitetônicas

O discreto charme de outras joias arquitetônicas

10/11/2012 - O Globo

Pouco conhecidos, prédios nos estilos art nouveau, art déco e moderno ajudam a embelezar a cidade

10/11/2012 - 19h00 | O Globo

Art déco. O Tabor Loreto, no Flamengo, com a grade vazada para os salões Ana Branco / O Globo
RIO - Eles não criaram a paisagem carioca. E, nem sempre, são os autores dos grandes ícones da arquitetura da cidade, como o Teatro Municipal ou o Edifício Gustavo Capanema. Mas marcaram sua assinatura em belas construções, que hoje fazem do Rio um mosaico interessante de diferentes estilos e épocas. Com um pouco de calma e o olhar atento, o pedestre descobre verdadeiras obras de arte a céu aberto em meio à selva de pedra. E ainda faz uma viagem ao passado.

Em frente ao número 734 da Rua do Russel, na Glória, é necessário algum tempo de observação para apreciar todos os detalhes do casarão em estilo art nouveau. Comparado a Gaudí, o italiano Antonio Virzi é o arquiteto da construção de três andares, chamada de Casa Villino Silveira, hoje propriedade do empresário Eike Batista. A formas de Virzi são imprevisíveis, e cada pequena ornamentação surpreende o olhar, como os laçarotes em ferro presos às colunas.

Virzi chegou ao Rio em 1910, foi professor da Escola Nacional de Belas Artes e construiu diversas propriedades para uma burguesia carioca mais extravagante. A Casa Villino Silveira data de 1915 e foi erguida para Gervásio Renault da Silveira, fabricante do Elixir de Nogueira.

Se tivesse feito o mesmo na Itália, teria sido um arquiteto de renome internacional afirma o arquiteto Alberto Taveira, do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

Professor de história e teoria da arquitetura na Universidade Rural, Claudio Antônio Lima Carlos diz que o art nouveau valoriza elementos naturais e o estilo livre, como os que são vistos no endereço:

Nada do Virzi é previsível, ortogonal ou simétrico.

No mesmo trecho da Russel, o Edifício Milton é outra joia arquitetônica, classificada como eclética, com algumas formas em art déco. No passado um dos endereços mais elegantes da cidade, com seu portal de mármore verde, o prédio foi projetado por Adolpho Dourado Lopes, em 1929.

Ele era dono, em sociedade, da construtora Gusmão, Dourado & Baldassini, uma das maiores do Rio na época. Eles faziam prédios imensos diz Taveira.

O telhado é inspirado no renascimento francês, e as venezianas verdes que ainda restam chamam a atenção. O nome do imóvel veio do seu construtor e primeiro proprietário, Milton Carvalho, sócio do magazine A Exposição.

Andando mais um pouco, a Praia do Flamengo reserva algumas pérolas. O Tabor Loreto, no número 244, tem a assinatura do arquiteto francês Henri-Paul Pierre Sajous, também autor do Biarritz, a poucos metros de distância e ícone do art déco. No mesmo estilo, o Tabor Loreto (de 1940) é mais grandioso e vanguardista.

A grade em ferro batido que chanfra a quina do prédio é extremamente moderna para a época analisa o presidente do Instituto Art Déco Brasil, Márcio Roiter.

Sajous foi autor de outras construções importantes, como os prédios da Mesbla e da Associação Comercial.

Entre os projetos escondidos na paisagem e que merecem destaque para o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti está o do Liceu de Artes e Ofícios, na Rua Frederico Silva, Cidade Nova. De 1957, o conjunto tem o formato de E e três blocos interligados por passadiços. O desenho é de Enéas Trigueiro Silva. Antes, o arquiteto projetara escolas durante a administração de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal (1931-1935).

Eu o considero pós-moderno. Destaco o uso de elementos do modernismo, como o cobogó, as rampas, os pilotis e o teto plano diz Nireu.

O passado do Centro do Rio espremido entre espigões de vidro

A Avenida Rio Branco, no Centro, reserva um corredor curioso de prédios que começa na esquina da Rua do Ouvidor e segue pela Miguel Couto. Com edifícios envidraçados e de cor escura em volta, o grupo de construções antigas e coloridas se destaca na paisagem. A mais chamativa é a da Ouvidor 116, na esquina com a Miguel Couto, com seu estilo eclético e influências egípcias, vistas em duas esculturas no segundo pavimento e em pinturas nas paredes. O nome do arquiteto foi esquecido no tempo. Ao lado, há dois exemplares art déco: um construído pela empresa J.A. Costa & Cia. em 1932, de cor ocre, seguido por outro de 1931, cinza, do arquiteto e construtor Joaquim da Silva Cardoso.


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