Abandono que se vê

26/03/2015 - O Globo

Uma das principais vias expressas da cidade, com cerca de 75 mil carros circulando por dia, o pulsante Viaduto Engenheiro Freyssinet, popularmente conhecido como o elevado da Avenida Paulo de Frontin, inaugurado, em 1974, no Rio Comprido, está precisando de serviços de manutenção urgentemente. A equipe do GLOBO-Tijuca percorreu, na companhia do professor de Engenharia da Uerj Gilberto Menezes de Moraes, os 2,3 quilômetros de extensão do viaduto, num trajeto de ida e volta (4,6 km). O que se constatou, com a ajuda de fotos e de um vídeo, foi a degradação de diversos pontos da estrutura de concreto, tanto na parte superior quanto da inferior. Corrosão por toda parte, barras de aço internas à mostra e vegetação crescendo entre os vãos refletem as falhas na inspeção do local.

Capazes de deixar o cidadão leigo no mínimo ressabiado, os flagrantes de abandono assustam os frequentadores do local, que temem consequências mais graves. É o caso de Rodney Lima, que mora próximo à esquina com a Barão de Itapagipe. A distância do viaduto para o seu edifício é de cerca de dez metros.

— Venho percebendo o concreto corroído nos guarda-rodas em diversos trechos do viaduto. Tenho medo de que não haja condições de segurar uma batida forte e que dê origem a um acidente fatal. Há tempos não vejo conservação por aqui. Embaixo a situação também é crítica — afirma Rodney Lima, que é vendedor.

No entanto, o professor Gilberto Menezes de Moraes rechaçou, à primeira vista e a olho nu, qualquer risco iminente de queda. Segundo moraes, não há também no viaduto, pelo menos numa observação rápida, fissuras ou quaisquer problemas estruturais que possam causar uma tragédia. Ele disse concordar que seja necessária uma ação de conservação imediata, para evitar problemas graves no futuro.

— Inevitavelmente, o elevado vai sofrendo um desgaste com o tempo, devido às intempéries externas, principalmente à ação do monóxido de carbono. Uma obra desse porte é para durar uns 80, 100 anos, mas é preciso que haja ações de conservação constantes. Percebe-se, por exemplo, o concreto corroído, com as estruturas de aço aparecendo. Mas a grande preocupação seria vermos essas barras de aço rompidas, o que não é o caso. A quantidade de barras no local é calculada para um desgaste como esse. E são só as primeiras barras, portanto, não há porque ter pânico — explica Moraes.

O professor, no entanto, alerta: se o elevado tivesse aspecto melhor, uma fissura estrutural grave ficaria mais visível:

— O nível de corrosão é altíssimo e a estrutura está com aspecto de maltratada. Pode ser que, caso um dia surja um problema sério, ele fique camuflado — constata Moraes.

Reparos e inspeções mais periódicas são benéficos aos cofres públicos, acrescenta Moraes, porque há uma economia de tempo e de dinheiro.

— Quanto pior o estado da estrutura e maior for o dano, mais caro será o custo do reparo. Acredito que já passou a hora de fazer as manutenções periódicas no Paulo de Frontin e os órgãos públicos não podem deixar passar essa oportunidade. Não basta ser seguro, o elevado deve ter um aspecto que transmita segurança — explica.

Outro problema que deixa evidente a falta de manutenção regular no viaduto é a vegetação crescendo em diversos vãos. O professor afirmou que isso é sinal de umidade e água retida no concreto, o que, segundo ele, deve merecer atenção especial.

— Isso mostra que há água dentro do caixão de concreto. Não basta a equipe de manutenção retirar a planta. Tem que investigar porque isso está acontecendo. A umidade pode criar um cenário favorável à corrosão das barras de aço internas que não fica visível e, consequentemente, gerar problemas no futuro. É importante investigar.

Com aspecto deteriorado, os guarda- rodas também preocupam os pedestres que circulam por baixo do viaduto. Em frente à Unicarioca, as pestanas (parte horizontal de cima) estão descascadas em alguns trechos.

— Se a barra está exposta é porque o concreto já caiu. Uma manutenção urgente é necessária, para evitar que alguém seja surpreendido com um concreto despencando sobre a cabeça — critica o faxineiro Genilton Bezerra.

O engenheiro também também falou sobre a divisão de concreto das pistas.

— Não estou vendo barras fundidas ao ponto de afetar a sua utilidade, mas muitas delas estão deterioradas. Mais dois anos sem manutenção e o viaduto irá parecer uma praça de guerra — disse.

Para a estudante Estela Paiva, o elevado precisa de uma pintura.

— A prefeitura pintou só o comecinho do elevado perto da Rua Joaquim Palhares,onde moro. O viaduto ficaria com outra cara. Daria mais vida ao bairro — opinou.

A assessoria de imprensa da Secretaria municipal de Obras ( SMO), por meio de nota, informa que trabalha no levantamento de serviços necessários a obras de recuperação do elevado, a fim de elaborar um orçamento. Ainda de acordo com a secretaria, a última intervenção ocorreu no segundo semestre de 2014, quando foi realizada a pintura nos guardrails e algumas inspeções.