Grupo que invadiu terreno da Cedae agora ocupa prédio da antiga sede do Flamengo

Cerca de 80 pessoas ocupam o Edifício Hilton Santos, na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, desde domingo

POR BRUNO AMORIM

07/04/2015 - O Globo



Invasores colocam placa no prédio da Avenida Rui Barbosa em que explicam que seus barracos foram derrubados em área da Cedae - Gabriel de Paiva / O Globo

RIO - Um grupo de 80 pessoas ocupa o Edifício Hilton Santos, onde funcionava a antiga sede do Clube de Regatas do Flamengo, na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo. Segundo um dos invasores, que se identificou como Júnior Dias, de 26 anos, há no grupo 19 crianças e seis grávidas. Segundo ele, o prédio tem luz, mas está sem água.

— Quando ocupamos o prédio, no domingo, os seguranças estavam dormindo e não houve confronto — disse Júnior.

Eles fazem parte do mesmo grupo que foi retirado pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal de um terreno da Cedae na Via Binário, na semana passada. Desde então, vinham dormindo na Cinelândia. O grupo fez uma carta aberta explicando que o objetivo da ocupação é chamar a atenção das autoridades para a falta de moradia.

— Não é justo um local como este abandonado e a gente dormindo na rua. Não invadimos e nem arrombamos. Estamos ocupando — disse Júnior, que conta ter crescido nas ruas e consegue sobreviver fazendo pequenos serviços.

Policiais do 2º BPM (Botafogo) estão em frente ao prédio. Dois representanates da EBX, empresa empresário Eike Batista que chegou a anunciar que transformaria o prédio em um hote, estiveram na manhã desta terça-feira no local para tentar negociar a saída dos invasores.

Pedestres que passam pelo edifício param para olhar o que promete ser um novo problema para uma área que, segundo os moradores, tem pouca segurança. O fisioterapeuta Flávio Coelho, de 39 anos, não conteve a indignação:

- Todos na rua sabiam que isso ia acontecer. É uma grande falta de cuidado.


Fachada do prédio da antiga sede do Flamengo, na Avenida Rui Barbosa - Gabriel de Paiva / Agência O Globo

A aposentada Carmem Milem avalia que a invasão era uma tragédia anunciada.

- Lastimamos muito, pois são 17 andares, e a polícia vai ter muito trabalho para resolver. Será um caos. Esse pedaço da Rui Barbosa já é perigoso, agora com essa invasão vai piorar muito - disse.

Para a Associação de Condomínios do Morro da Viúva (AMOV), a invasão do prédio já era esperada. A entidade afirma que desde o segundo semestre do ano passado vem alertando as autoridades sobre o abandono e a degradação do edifício.

- Em junho de 2014, levamos a situação do local ao responsável pelo clube. Contudo, não obtivemos nenhuma resposta. Com isso, tentamos contato com o Vice-presidente de Patrimônio do Clube e mais uma vez nenhuma atitude concreta foi tomada - disse.

A presidente da associação disse, ainda, que em outubro do mesmo ano procurou o comando do 2º BPM (Botafogo) e uma opreração para vistoriar o prédio foi organizada:

- Durante a vistoria, constatamos o total abandono do edifício e muito lixo. Além disso, no local havia apenas dois porteiros e nenhuma segurança", afirma Maria Thereza, acrescentando que, a associação rambém solicitou uma audiência com o Secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, em novemro de 2014, e não obteve resposta.

Maria Thereza lembra que somente em dezembro a prefeitura fez uma operaçaão no prédio. Agentes da Secretaria de Ordem Pública, da Guarda Municipal, da Vigilância Sanitária, da Defesa Civil e da Comlurb fizeram uma inspeção para averiguar a denúncia da associação, que realizou ainda na época um abraço simbólico ao prédio para chamar atenção das autoridades para a gravidade da situação.

- A situação é crítica. Não há qualquer tipo de segurança, apenas quatro porteiros que se revezam em dois turnos, facilitando assim os roubos e as depredações, e também se torna alvo fácil para invasões, como estamos vendo - afirma Maria Thereza.


PRÉDIO PODE SER TRANSFORMADO EM HOTEL

O empresário Eike Batista pretendia transformar o prédio em um hotel quatro estrelas para as Olimpíadas de 2016. Na semana passada, a rede de hotéis Bourbon confirmou que está em fase de negociação com o Grupo EBX do empresário para operar o edifício. A rede Bourbon, no entanto, não informou um prazo para concretizar o possível acordo.

Em janeiro de 2012, o Conselho Deliberativo do Flamengo tinha aprovado a proposta de assinar um contrato de concessão do prédio à empresa REX, braço imobiliário do grupo, por 25 anos. Os planos de Eike eram abrir ali o Hotel Parque do Flamengo, com investimentos de R$ 100 milhões em reformas. Moradores que viviam nos apartamentos, no entanto, se recusavam a deixá-los. E, após brigas que chegaram ao Ministério Público ao longo de 2012, o Hilton Santos foi desocupado.

O prédio, construído nos anos 1950, vem sofrendo com o abandono desde a crise que atingiu o empresário, o que impediu que o projeto de transformá-lo num hotel, com 454 quartos, saísse do papel.

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