Grupo que ocupou imóvel morava nas ruas e já participou de outras ocupações
POR BRUNO AMORIM
08/04/2015 - o Globo

Prédio do Flamengo na Avenida Ruy Barbosa é invadido por moradores de rua - Pablo Jacob / Agência O Globo
RIO — Vizinhos do Edifício Hilton Santos, na Avenida Rui Barbosa 170, no Flamengo, afirmam que um grupo de cerca de 40 pessoas conseguiu entrar no prédio na noite de terça-feira, durante a troca de plantão da Polícia Militar. O local foi invadido na madrugada desta segunda-feira por cerca de 90 pessoas. Desde a ocupação irregular, policiais do 2º BPM (Botafogo) estão no local para impedir que mais pessoas entrem no local.
Ao longo da terça-feira, alguns ocupantes deixaram o imóvel alegando que iriam trabalhar ou ao médico. Outros saíram para comprar comida para quem ficou do prédio. No início da noite, o grupo se reuniu à porta do prédio, mas, impedido de entrar pela polícia, seguiu para uma praça próxima. Aproveitando uma distração dos policiais, eles conseguiram depois entrar no Hilton Santos.
— Tem alguém que articula tudo. Ele falava no celular e dava ordens ao grupo. Por volta das 21h, durante a troca de guarda da PM, ele saiu correndo para chamar o grupo que estava do lado de fora, na praça — afirmou a aposentada Marina Johnson, de 63 anos, que mora na região e tem acompanhado a movimentação no Edifício Hilton Santos.
GRUPO JÁ PARTICIPOU DE OUTRAS INVASÕES
Segundo os próprios invasores, a maior parte deles já participou de outras ocupações e morou em ruas da cidade. Alguns estavam presentes nas invasões de um terreno da Cedae na Via Binário 2, na Zona Portuária, no mês passado; da fábrica de plástico Tuffy Habib, no Complexo do Alemão; e na Favela da Oi, no Engenho Novo, ambas no ano passado.
Um dos líderes da invasão, o camelô Alexandre Silva, de 37 anos, disse que trabalha em Copacabana e mora na rua. Ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Silva já viajou para outras cidades para participar de ocupações.
— Há dois anos luto com meus amigos para conseguir uma casa. Vou aonde for preciso para vencer — afirmou o ambulante.
Flávia Pereira, de 38 anos, outra líder do movimento, contou que nasceu no Santo Cristo, mas cresceu nas ruas de Copacabana.
— Há três anos, depois de conhecer muitas pessoas que moravam em ocupações, decidi que ocupar era a melhor solução para não dormir nas ruas — disse Flávia.

O servente Fábio Júlio já participou de outras ocupações - Pablo Jacob / Agência O Globo
O servente Fábio Júlio, de 32 anos, disse que, até ir para o terreno da Cedae, morava de favor na casa da ex-sogra, mas também já passou por diversas ocupações. Segundo ele, muitos desses locais são controlados pelo tráfico de drogas:
— Minha primeira ocupação foi em um hotel abandonado na Rua Lobo Júnior, no Estácio, durante os anos 1990. Ficamos um ano lá. Também morei no "casarão amarelo", na Lapa, onde quem manda são os traficantes.
HOTEL 4 ESTRELAS TERIA 454 QUARTOS
O empresário Eike Batista pretendia transformar o prédio do Morro da Viúva em hotel quatro estrelas para os Jogos de 2016. O Edifício Hilton Santos abrigaria o Hotel Parque do Flamengo, com 454 quartos. A reforma do imóvel, construído nos anos 1950, era estimada em R$ 100 milhões. O investimento era visto com bons olhos pela prefeitura, que chegou a anunciar que perdoaria a dívida de IPTU do clube, de R$ 17 milhões. A medida se justificaria pelo fato de a construção do hotel, que receberia turistas em 2016, atender ao pacote olímpico. Porém, desde a crise que atingiu o império de Eike, o local sofre com o abandono.
Recentemente, a rede de hotéis Bourbon confirmou que está em fase de negociação com o Grupo EBX para assumir o empreendimento. A rede, no entanto, não informou um prazo para concretizar o projeto.
O Flamengo afirmou que já notificou o grupo EBX, mas ainda não obteve resposta.
— Desde ontem (anteontem), estamos estudando uma estratégia judicial. Não vamos esperar a EBX se movimentar. Não podemos deixar esse patrimônio se deteriorar — disse Bernando Accioly, diretor jurídico do Flamengo.
O Tribunal de Justiça do Rio afirmou que, até esta quarta-feira, não recebeu nenhum pedido de reintegração de posse para o Edifício Hilton Santos. Procurado por O GLOBO, o grupo EBX não se pronunciou.
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