Avenida Vice-Presidente José de Alencar, no Cidade Jardim, será aberta
POR FABIO TEIXEIRA / LUCAS ALTINO
03/03/2016 - O Globo

Unidos. Moradores convocaram abaixo assinado contra abertura de via - Fabio Rossi / Agência O Globo
Rio - O anúncio veio de repente, e, dizem os moradores do condomínio Cidade Jardim, sem que eles fossem ouvidos: a Avenida Vice-Presidente José de Alencar, que passa pelo residencial, vai abrir para o trânsito. Não se sabe ainda quando, mas o martelo já está batido, afirma o subprefeito da Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá, Alex Costa. A via atualmente atende os moradores do Cidade Jardim e, controlada com quebra-molas e sem saída, é praticamente desprovida de tráfego de carros que não sejam de moradores.
A decisão é de ligar a via, à qual se tem acesso pela Avenida Imperatriz Leopoldina, à Estrada Coronel Pedro Corrêa. De acordo com a subprefeitura, trata-se de uma medida dentro de um plano maior de melhoria do trânsito na região.
Para os moradores, a mudança põe em risco a paz diária. Um abaixo-assinado on-line contra a abertura da Avenida Vice-Presidente José de Alencar conta com 2.398 nomes. O administrador de empresas Leonardo Vieira está entre os que o assinaram.
— A prefeitura não consultou a comunidade. Não há necessidade alguma de abrir esta rua, nós mesmos criamos uma alternativa viável — diz ele.
A alternativa, desenhada pelo engenheiro Marcello Cunha, morador do Cidade Jardim, previa que, em vez de se abrir a José Alencar, fosse completada a via Projetada A, fora do condomínio.
A falta de representação é negada pelo subprefeito. De acordo com ele, houve duas reuniões sobre o assunto no auditório da subprefeitura, uma delas com a presença do secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani. Aos encontros, diz, compareceram representantes da Associação de Amigos do Cidade Jardim (Ascija).
— Nunca me neguei a atender qualquer pessoa que tenha me procurado. Ouvimos a associação. Se há moradores que não se sentem representados, isso é um problema de origem — afirma.
O Cidade Jardim é composto por quatro residenciais, com cerca de 12 mil habitantes ao todo, maior que cidades como Varre-Sai e Rio das Flores, no interior do estado, e quase igual à população do município de Areal (total estimado pelo IBGE em 11.970 pessoas, em 2015). Perante o poder público, esta população é representada pela Ascija, que recebe recursos, por meio de mensalidades dos condôminos, para manter as áreas públicas e os serviços coletivos.
Segundo moradores, a associação não os avisou da derrubada do muro que separava o condomínio da Estrada Coronel Pedro Corrêa, o primeiro sinal de que a via seria aberta. O diretor da Ascija, Fernando Milanez, porém, diz que ele mesmo foi pego de surpresa:
— A ligação informando que haveria a derrubada do muro veio na noite anterior à chegada do trator. Não tivemos tempo hábil de avisar.
A insatisfação periga criar um racha dentro do Cidade Jardim. Mobilizado, um grupo decidiu criar a Associação de Moradores dos Empreendimentos do Complexo Cidade Jardim (AmoJardim). Um dos integrantes, o jornalista Fortunato Mauro, avalia que a Ascija não os representa mais:
— Eles simplesmente aceitaram a abertura da rua. Não tentaram impedi-la.
Milanez afirma que o departamento jurídico desaconselhou a Ascija a tentar impedir a abertura da via:
— Estávamos trabalhando para manter o muro, mas não haveria como. Poderia ter sido dada uma liminar, mas ela seria cassada no dia seguinte.
O subprefeito Alex Costa, por sua vez, afirma estar disposto a se encontrar com os moradores insatisfeitos para ouvir as reclamações.
As construtoras Cyrela e Carvalho Hosken, responsáveis pelo empreendimento, são também parte do conselho comunitário da Ascija. De acordo com a Cyrela, a abertura da via estava prevista no projeto original do loteamento. Já o presidente da Carvalho Hosken, Carlos Fernando de Carvalho, confirma que o projeto previa a abertura e acrescenta:
— Se mantivermos o sistema fechado como está, e o poder público concordar, a função dos espaços públicos passará a ser violentada por alguns condôminos que muito justamente querem defender o conforto que é para eles aquela grande avenida. Se considerarmos os aspectos legais, que todos temos a obrigação de cumprir, e a conveniência de terceiros, inclusive de alguns moradores do Cidade Jardim, é evidente que a abertura facilita a circulação geral da área e não torna esta via um bem privado, embora tenha sido paga pela própria comunidade. A via é da prefeitura. Se a associação civil se sente desconfortável, deve levar sua reivindicação a ela.
CUSTO MAIOR
A decisão da prefeitura de abrir a Avenida Vice-Presidente José Alencar em direção à Estrada Coronel Pedro Corrêa trará, além de transtornos, mais ônus para os moradores, adianta o diretor da Ascija, Fernando Milanez:
— Vai aumentar um pouco o custo para o morador, até devido à questão da segurança.
Contrário à abertura, Fortunato Mauro acredita que a mudança desvirtua o que foi oferecido a ele na época em que comprou um apartamento no condomínio:
— A via é pública, mas financiamos todas as benfeitorias feitas nela. Pagamos pela iluminação, pelos jardins. Se a rua for aberta, alguém vai ter que arcar com os custos.
As marcas do trator que derrubou o muro que separava o condomínio da Estrada Coronel Pedro Corrêa ainda são visíveis - Fabio Rossi / Fabio Rossi
Na outra ponta, a tentativa é de mitigar os efeitos da abertura. Milanez adianta que vai solicitar à prefeitura a instalação de cancelas e a criação de mais seis quebra-molas, três de cada lado da via. Assim, a Vice-Presidente José Alencar passaria a ter cinco quebra-molas de cada lado. Há também uma preocupação em garantir que não passem ônibus ali.
— Não temos demanda por ônibus. Temos cinco do nosso próprio condomínio — afirma Milanez.
O presidente da associação de moradores do Cidade Jardim revela, porém, que pelo menos durante os Jogos Olímpicos e, possivelmente, Paralímpicos, ônibus passarão pela José Alencar, em razão dos bloqueios que serão feitos em vias mais movimentadas. Ele estima que a via será aberta em meados de maio.
PROBLEMAS COM ÔNIBUS
Os moradores do Barra Bonita também temem perder a tranquilidade desfrutada até aqui. Há duas semanas, um projeto idealizado para dar conforto e melhorar o serviço dos ônibus expressos Recreio-Centro trouxe-lhes, em vez disso, dor de cabeça. Por iniciativa do Shopping Recreio, o ponto final da linha executiva foi transferido da Rua Guiomar Novaes para o estacionamento do centro comercial, onde seria feito um novo terminal, com salas climatizadas e televisões. A mudança, porém, implicou também num novo trajeto, e os veículos passaram a transitar por dentro do condomínio. Após muitas reclamações, os ônibus deixaram de circular pelo Barra Bonita e voltaram ao ponto original, no Recreio. Mas seu trajeto definitivo ainda está em discussão.
— Foi uma negociação entre o shopping e a empresa de ônibus, com autorização da Secretaria municipal de Transportes. Mas o que seria uma vantagem, trazer o ônibus para mais perto, tornou-se um problema. Os veículos entravam pela José Luiz Ferraz (rua pública dentro do condomínio) e acessavam o estacionamento do shopping por um portão para caminhões — explica William Nogueira, presidente da Associação de Moradores do Barra Bonita, para quem o shopping não cumpriu integralmente sua parte no acordo. — O combinado era ter só dois ônibus de cada vez estacionados aqui. Mas às vezes ficavam cinco, seis. As ruas internas são estreitas; isso atrapalhava o trânsito. Fora o barulho.
O percurso por dentro do condomínio foi realizado de 15 a 23 de fevereiro. Os residentes nos edifícios Varandas e Up Life foram os que mais se sentiram prejudicados, pois era pela via entre os dois prédios que os ônibus acessavam o Shopping Recreio. Diante das reclamações, Nogueira e o administrador regional do Recreio, Marcus Ballestieri, foram à CET-Rio e a operação acabou temporariamente suspensa pela Secretaria municipal de Transportes.
— Estamos vendo uma proposta melhor, com calma. A tranquilidade voltou, porque os ônibus pararam de circular aqui dentro. Mas um terminal próximo do condomínio seria um serviço bacana. Mesmo porque andar até o Terreirão é perigoso — diz Nogueira.
ônibus estacionados no estacionamento do shopping - Fabio Rossi / Agência O Globo/16-2-2016
Procurados, a operadora Expresso Recreio e o Shopping Recreio informaram que o ponto final voltou à Rua Guiomar Novaes com “o objetivo de manter o bem-estar dos moradores do Barra Bonita”. Os dois disseram que estudos continuam para que uma solução seja encontrada e que os ônibus não voltarão ao estacionamento do shopping enquanto a nova proposta não estiver pronta.
Se depender dos moradores, os ônibus não transitarão mais pelo condomínio. Para Sonia Lossio, moradora do Barra Bonita, o projeto “pulou a fase de planejamento e análise de impactos”:
— Não podemos chamar de projeto, e sim de tentativa e erro. O objetivo final, que é a satisfação do cliente, não estava sendo atendido. Não há espaço para circulação de veículos grandes nas ruas internas. O risco de atropelamento e acidentes era grande, assim como o transtorno na entrada e saída do condomínio.
Fernando Abdalla afirma que procurou o shopping mais de vez, em vão, para tentar reclamar. E lista outras queixas:
— A poluição nos apartamentos aumentou, já que os ônibus ficavam ligados o tempo todo para manter o ar-condicionado funcionando. Além disso, o portão do estacionamento do shopping só abre às 7h, mas eles começavam a chegar às 5h30m e já formavam uma fila aqui dentro.
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