Local, agora revitalizado, passou quatro décadas escondido pelo elevado da Perimetral
POR GUILHERME RAMALHO
10/04/2016 - O Globo

A avenida em plena transformação após a derrubada do elevado: o VLT vai circular sobre um imenso gramado e os antigos armazéns vão ganhar uma nova função, abrigando restaurantes e atividades como cursos de vídeo - Márcia Foletto/9-12-2014 / Agência O Globo
Na frente dos antigos armazéns do Porto, uma centenária avenida está prestes a renascer. Durante quatro décadas escondida sob o Elevado da Perimetral, uma nova Rodrigues Alves agora já se revela, revitalizada, para os cariocas. Até o fim do mês, a Companhia de Desenvolvimento da Região do Porto do Rio (Cdurp) pretende inaugurar o primeiro trecho do passeio público planejado para a área. O novo trajeto de um quilômetro de extensão, entre a Praça Mauá e o Armazém da Utopia (o de número 6), faz parte da Orla Prefeito Luiz Paulo Conde, frente marítima que ligará, até junho, o Museu Histórico Nacional ao Armazém 8, integrando nove praças do Centro e da Zona Portuária.
As obras na Rodrigues Alves começaram em março de 2014 e estão em fase final, com uma equipe de 530 operários. Na última terça-feira, uma equipe do GLOBO percorreu toda a extensão do caminho em construção. A pavimentação em granito está praticamente pronta. Entre os armazéns, já é possível ver como ficarão os espaços para contemplar a paisagem da Baía de Guanabara. Quando os armazéns perderem os status de área de alfândega, os visitantes poderão se aproximar ainda mais do mar, como já acontece na Praça Mauá, onde não há nenhuma tela de proteção. Um acordo entre a prefeitura e a Secretaria de Portos (órgão federal) foi firmado em outubro do ano passado, mas até agora não foi oficializado.
Na frente do Armazém da Utopia, encontra-se a parte mais adiantada das obras. Há jardins e mudas de árvores. Além das 59 árvores que já existiam na avenida e nas ruas de acesso, serão plantadas outras 463, recheando o ambiente com ipês-amarelos e roxos, paus-brasis e palmeiras-jerivás. Já entre os armazéns 4 e 5, montanhas de terra se acumulam. O espaço não ficará pronto a tempo da inauguração do passeio público e será fechado por tapumes.
Dos bondinhos ao VLT
O futuro boulevard também resgata o passado de sua avenida. Um dos autores do livro “Porto do Rio: construindo a modernidade”, o arquiteto Augusto Ivan lembra que, quando os primeiros 800 metros da Rodrigues Alves foram inaugurados, em 20 de julho de 1910, os convidados da cerimônia atravessaram, em bondes elétricos, a então Avenida do Caes, que passou a ter o nome do presidente em 1917. Embora os atuais veículos leves sobre trilhos (VLTs) sejam bem diferentes de seus antecessores, a expectativa é que, quando o passeio público for inaugurado, os visitantes já possam passear neles. A previsão é que nove dos 27 bondes modernos entrem em operação assistida (fora do horário de rush e com capacidade reduzida) até o fim do mês, junto com o novo boulevard, percorrendo o trajeto da Rodoviária Novo Rio até o Aeroporto Santos Dumont. Na última terça-feira, pela primeira vez os testes foram realizados em todo o percurso. Na Rodrigues Alves, o VLT vai deslizar sobre um imenso gramado, parando em três estações: Utopia, Parada dos Navios e Paradas dos Museus.
— A Rodrigues Alves sempre foi vista como uma via de escoamento do Porto. O desafio agora será dar vida àquele lugar, fazendo a renovação da área. Ao mesmo tempo, a região precisa de mais moradores — opinou Augusto Ivan.
Novas atrações à vista
Além do VLT, o BRT Transbrasil (Deodoro-Centro) também vai passar pela Rodrigues Alves, mas apenas na parte que já funciona como via expressa desde setembro do ano passado. Em junho, o trecho dará continuidade ao Túnel da Via Expressa, que ligará o Aterro do Flamengo à Avenida Brasil e à Ponte Rio Niterói. Um terminal de integração com o VLT será instalado entre o Gasômetro e a Novo Rio.
— Basta ver uma foto antiga para comparar. Mudou completamente a paisagem. Será um lugar bastante aprazível, agradável, limpo e com uma urbanização bem bonita. Será um espaço de melhor qualidade. Os turistas são muito bem-vindos, mas isso é para os cariocas — destacou Alberto Silva, presidente da Cdurp.
Tantas transformações já têm atraído empresas e novos negócios para o local. Primeira fábrica de moagem de trigo do Brasil, o Moinho Fluminense será transformado num complexo empresarial, residencial e hoteleiro, com inauguração prevista para 2018. Perto do Armazém 8, está sendo construído o Aquário Marinho do Rio (AquaRio), que deve abrir as portas depois das Olimpíadas. Já os armazéns ganharão novos usos. O de número 1, por exemplo, vai abrigar o YouTube Space, que terá estúdios, equipamentos e cursos oferecidos pela empresa de vídeos. As obras devem começar daqui a dois meses, com previsão de inauguração até o fim do ano. Em 2017, o 2 e o 3 devem ser transformados num polo gastronômico, com bares e restaurantes, enquanto o 4 e o 5 continuarão sendo usados como terminais de passageiros.
— Estamos conversando com alguns grupos para transformar aqueles espaços em uma área de gastronomia, como há no mundo inteiro perto das zonas portuárias. Temos a expectativa de transformações muito grandes logo após as Olimpíadas. Então, os primeiros armazéns vão deixar de ser para eventos para ter um uso mais fixo, já que a região trará mais público. Existe um interesse muito grande naquela área — afirmou Denise Lima, diretora-geral do Pier Mauá.
Segundo Denise, o prédio chamado Externo 1, que fica em frente aos terminais de passageiros, também será reformado para abrigar estacionamento e lojas no primeiro andar e escritórios no segundo.
— Será exatamente para facilitar a utilização do terminal de passageiros e da área de gastronomia. Atrás do prédio, está previsto um ponto de táxi numa rua que ainda está sendo construída. Nossa ideia é que os passageiros saiam do terminal, passem pelo boulevard e depois pelo prédio para acessar essa via onde ficarão os táxis — adiantou Denise, ressaltando que os armazéns até o número 4 já passaram por reformas, mas as obras no 5 e no Externo 1 só deverão começar depois das Olimpíadas.

O novo cenário da Avenida Rodrigues Alves já reformada e livre da sombra do Elevado da Perimetral, no trecho transformado em via expressa: num outro ponto, ela terá um passeio público, a ser aberto até o fim deste mês - Márcia Foletto / Agência O Globo
Para o arquiteto Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, o desafio agora será integrar os equipamentos culturais.
— Teremos um circuito cultural muito rico. É o Rio de Janeiro avançando no turismo urbano e cultural, o que é muito positivo porque deixa mais recursos na cidade. A gente nunca vai perder o turismo de natureza, de praias. Será que o VLT não poderia ter um bilhete cultural de final de semana, de modo a que as pessoas comprem a passagem e possam ir a Museu do Amanhã ou ao AquaRio? — sugere.
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